Lula flerta com Temer em um jogo para ambos escaparem da cadeia

Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer.

Lula sempre foi pragmático. Seu melhor instinto, em todos os tempos, foi o da sobrevivência. Nadou de acordo com as marés e marolas. Mesmo quando suas braçadas o conduziam para rumos bem diferentes dos portos por ele anunciados. Justificava a mudança de trajetória se dizendo uma metamorfose ambulante.

A coerência nunca lhe preocupou. A coerência, cada vez menos, parece ser atributo para políticos. Em algum momento, ela até foi um diferencial no jogo para a conquista de eleitores. Deixou de ser.

O que importa hoje, entre caciques de peso de vários naipes, é manter a distância regulamentar da cadeia. A ética também virou mero detalhe.

Geddel Vieira Lima

Há alguns anos, em uma madrugada no Piantella, Geddel Vieira Lima, hoje inquilino na Papuda, filosofava: “Na política, o ético é quem ainda não foi flagrado”.

Era um tempo em que parecer ético dava algum dividendo eleitoral.

Pela atual ótica deles, as aparências foram às favas.

O nome do jogo agora é cadeia. Quem ainda não está lá faz de tudo para escapar.

Isso vale para políticos de todos os cleros. A esperança geral é de que se livrem na esteira das cartas postas na mesa pelos grandes players da política nacional.

Um deles é Lula. Com outra derrota por goleada no Superior Tribunal de Justiça, ele perdeu o que lhe restava de cacife. Suas fichas foram gastas em sucessivos blefes, que alimentaram seus devotos, mas não colaram nas várias instâncias judiciais.

Sobrou uma carta. Mas ela só tem valor se avalizada por oponentes.

Mesmo ainda vestido de mito, Lula sabe que nunca esteve tão perto da cadeia.

Depois dos 5 a 0 no STJ, ele só se livra da prisão se reverter o placar adverso no Supremo Tribunal Federal. No desespero, petistas pressionam a ministra Cármen Lúcia.

É aí que a porca  torce o rabo. Não dá para ganhar no grito.

Pela narrativa de Lula nos palanques país afora, repetida ipsis literis por seus devotos, bombadas nas redes sociais, a Justiça no Brasil é um jogo de cartas marcadas.

Alardeiam, por exemplo, que os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, habitués do Palácio Jaburu, são peões de Michel Temer. Saem dali com posições acertadas nas votações no Supremo.

Se essa versão, cantada em verso e prosa, tiver procedência, Lula depende de Temer para ir ou não para a cadeia. Aí, as palavras de ordem tropeçam na realidade.

Sobra uma teoria da conspiração, às avessas. Nunca um ex-presidente, que se diz a voz do povo, esteve tão refém de um presidente tão impopular.

Lula, na dúvida, faz acenos. Para ganhar pontos com Temer, disse que a Globo, Rodrigo Janot e os donos da Friboi se uniram em um golpe para derrubar Temer.

Como assim?
Se essa nova teoria da conspiração tivesse um pingo de verdade, o PT e seus parceiros, com o “Fora,Temer”, nas batalhas na Câmara dos Deputados, também teriam sido massa de manobra da Globo.

Tolices e maluquices à parte, o pragmático Lula piscou para Temer. Com muito mais tempo de janela, Temer entendeu o gesto e gostou. Sabe que um carinho aqui pode ser correspondido mais adiante. Talvez seja o preço da liberdade para ambos.

Esse flerte será testado no STF.

A conferir.

 

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