A Lava Jato mantém o apoio da maioria da população. Mesmo assim, cambaleou diante da ofensiva de todo o establishment político, num acordo tácito entre caciques do Legislativo, ministros do STF, o presidente Jair Bolsonaro e o procurador Augusto Aras. Nos últimos dias, várias peças movimentadas no tabuleiro do Ministério Público indicam que as forças tarefas da Lava ganham algum fôlego para prosseguirem no combate à corrupção.
Nessa terça-feira (1), o Conselho Superior do Ministério Público – órgão máximo na cúpula da instituição – elegeu como seu vice-presidente o sub-procurador José Bonifácio Borges de Andrada. Por seis votos a quatro, e uma abstenção, ele derrotou o colega Alcides Martins, candidato apoiado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, na primeira reunião do Conselho com a nova maioria oposicionista.
Horas depois da reunião, a subprocuradora Maria Caetana, relatora no Conselho do pedido de Deltan Dallagnol para prorrogar a Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, cujo prazo de validade vence no dia 10 de dezembro, concedeu em caráter liminar a extensão dos trabalhos por mais um ano. A decisão definitiva ficou a cargo do plenário do Conselho. Há ali uma clara maioria favorável a Lava Jato.
Na semana passada, nada menos que oito dos 10 integrantes do Conselho já haviam pedido a Aras a prorrogação da força tarefa da Lava Jato em Curitiba, pelo menos por seis meses, dando tempo para os conselheiros definirem sem açodamento qual o melhor modelo para os grupos de combate à corrupção. Se insistir em atropelar as forças tarefas, Aras corre o risco de novas derrotas.
Augusto Aras, porém, tem dado sinais de conciliação. Alguns de seus colegas dizem que ele não esconde sua satisfação com a bem sucedida parceria com a Força Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro que foi responsável pelo afastamento do governador Wilson Witzel e a prisão, entre outros, do pastor Everaldo Pereira, ex-presidenciável e presidente do PSC.
Nessa terça-feira, outro ponto de discórdia foi removido sem causar trauma na instituição, apenas o drama pessoal do procurador Deltan Dallagnol. Depois de seis anos à frente da Lava Jato em Curitiba, ele anunciou que estava deixando a coordenação da força tarefa. Dallagnol justificou sua decisão pela necessidade de se dedicar mais à saúde de sua filha de um ano e 10 meses, com sérios problemas em seu processo de desenvolvimento. “Identificamos sinais que nos preocuparam em nossa bebêzinha. Ela parou de falar algumas palavras, deixou de olhar para a gente nos nossos olhos e rostos e também quando a chamamos. A nossa filhinha está passando por uma série de exames e terei que me dedicar como pai. E isso não pode esperar”.
– Depois de anos na Lava Jato, vou precisar agora focar na minha família. É uma decisão difícil, mas a decisão certa a tomar como paí – afirmou Dallagnol em um vídeo em que anunciou sua decisão.
Quem vai sucedê-lo na coordenação da Lava Jato é o experiente procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira. Sua base também é Curitiba, mas desde a gestão de Raquel Dodge ele vem atuando no comando da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República. Foi mantido por Aras. Na avaliação entre procuradores com forte atuação no combate à corrupção, Alessandro é um procurador preparado e discreto. A expectativa é de que a mudança não prejudique o trabalho da força tarefa – até porque ele já vem atuando, em parceria com os colegas de Curitiba, nos casos da Lava Jato que envolvem políticos com foro privilegiado.
A partir da próxima semana, quando o ministro Luiz Fux suceder Dias Toffoli na presidência do STF, mudança que deverá virar o disco no tribunal, a tendência é que o Supremo reforce a sustentação das investigações sobre a grande corrupção no país.
A conferir.