Em junho de 1988, reta final da Constituinte, líderes da expressão de Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Tasso, Euclides Scalco,Tasso Jereissati, Pimenta da Veiga e José Richa saíram do PMDB e criaram o PSDB, apresentado como partido moderno, progressista e ético. Foi uma geração bem sucedida.
Alguns de seus integrantes se mesclaram a novas lideranças tucanas e o partido, nos dois governos Fernando Henrique, chegou ao apogeu. Mesmo depois de perderem o governo federal, os tucanos continuaram brilhando com Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Aloysio Nunes, José Serra, Jereissati, Arthur Virgílio, Beto Richa, Marconi Perillo, entre outros.
Esse ciclo também chegou ao fim. As estrelas tucanas que se orgulhavam da bandeira ética erguida desde o seu primeiro ninho estão sendo dizimadas pela Operação Lava Jato e outras investigações sobre corrupção política. Em São Paulo, por exemplo, Geraldo Alckmin, quatro vezes governador, tem um desempenho tão pífio na corrida presidencial que desestimulou seus aliados país afora. Nem seu gigantesco tempo de propaganda no rádio e na tevê esconde a melancolia dessa campanha sem eira nem beira.
Depois do cerco da Lava Jato, José Serra, sempre louvado como o mais preparado presidenciável tucano, virou um morto-vivo na política, mesmo ainda tendo mais quatro anos de mandato como senador. Toda vez que o operador tucano Paulo Preto vira notícia, Serra afunda mais um pouquinho.
Outro que também não quer nem ouvir falar em Paulo Preto é o senador Aloysio Nunes, vibrante candidato a vice-presidente nas eleições de 2014, que hoje cumpre um belo exílio político no comando do Itamaraty. Só se ouve falar dele nos acessos de maluquice de Nicolás Maduro na Venezuela.
Assim, em São Paulo, principal fortaleza tucana no país, o bastão parece já ter trocado de mãos. João Doria, de plumagem recente, é a esperança do partido continuar com o governo do estado. Bruno Covas, aliado de Doria e neto de Mário Covas, é o prefeito de São Paulo. Mara Gabrilli, uma aposta na renovação, está firme no páreo para uma das duas vagas para o Senado.
Em Minas Gerais, outrora potentado tucano, na penumbra Aécio Neves faz uma campanha para deputado federal na expectativa de combater os flagrantes de corrupção sendo o mais votado no Estado. Ele se empenha com esse propósito, sem poder aparecer muito, para não atrapalhar a candidatura do senador Antonio Anastasia ao governo do estado, cria política do próprio Aécio. Anastasia topou pegar o bastão sem nenhuma garantia de devolução.
A mudança de plumagem no ninho tucano é bem maior do que nesses ninhos históricos. Além de Doria e Anastasia, alguns poucos tucanos chegam com boas chances de vitória nas disputas por governos de estados. Eles perdem espaço em estados como Goiás, Paraná, Pará em que há tempos dão as cartas. No Pará, onde o clã Jader Barbalho, voltou a dar as cartas, o PSDB do governador Simão Jatene ainda corre atrás para tentar reeleger o senador Flexa Ribeiro.
Há poucas semanas, as vitórias para o Senado de Marconi Perillo e Beto Richa eram tidas com certas. Viraram alvo da Lava Jato. De uma pesquisa para outra, Richa despencou 11 pontos percentuais e está empatados com outros três candidatos. Sem ainda ser mensurada a grande operação desferida nessa sexta-feira contra sua turma, inclusive com a justificativa de que ele só não foi preso por causa do calendário eleitoral, Marconi Perillo está embolado com outros três candidatos. Alguns em ascensão, ele caindo.
A reeleição de Pedro Taques, tucano novo, em Mato Grosso também está fora do radar. A surpresa é o governador Reinaldo Azambuja, chamuscado nas investigações, continuar bem nas pesquisas em Mato Grosso do Sul. Uma explicação é que ali as apurações sobre corrupção fez terra arrasada de toda a encrencada elite política.
Uma exceção é José Anchieta Júnior, um tucano favorito para governar Roraima, um estado conturbado depois da invasão de refugiados famintos da ditadura da Venezuela. Ele já foi governador. Para o PSDB, é mais do mesmo.
Novidade para valer vem do Rio Grande do Sul, estado em que o PSDB, afora uma mal sucedida experiência com a ex-governadora Yeda Crusius, não costuma fazer parte da tradicional elite de partidos que se revezam no comando do estado. Os tucanos primeiro surpreenderam, em 2016, com a eleição de Nelson Marchezan Junior para a prefeitura de Porto Alegre. Surpreendem de novo com a meteórica ascensão de Eduardo Leite, ex-prefeito de Pelotas.
Alguma outra eventual surpresa, como Eduardo Amorim em Sergipe, não altera a nova correlação de força no partido. Os senadores Cássio Cunha Lima e Ricardo Ferraço, com reeleições praticamente garantidas, ganham força. Tasso Jereissati, desgostoso com o partido, continua com mandato e segue na mesma linha. O prefeito Arthur Virgílio, de Manaus, se prepara para desembarcar em Brasília cobrando uma grande autocrítica do tucanato.
Outro dia, em uma viagem de campanha ao Norte, Alckmin planejou um evento em Manaus. Ouviu de Arthur Virgílio não venha porque não será bem recebido. Mudou o trajeto. Continuou perdido.
Os tucanos, mesmo atordoados, podem tentar alçar outros voos.
A conferir.