Jair Bolsonaro é useiro e vezeiro da manchada tática de atacar toda vez que se sente acuado. Tenta dar ares de coragem ao que, no seu caso, é pura covardia. Atira com estardalhaço em outros poderes e instituições democráticas para esconder seu arrego nos conchavos com quem puder dar uma mãozinha para si e a seu clã, acusados de uma penca de malfeitos. Mesmo sendo chato e repetitivo, esse jogo não deixa de ser perigoso. E caro.
Depois de ceder discurso, cargos, verbas e a alma do governo ao Centrão, o que em tese lhe garante uma sobrevivência no parlamento, ele segue inseguro. Apesar da escalação do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil, um especialista no toma lá dá cá no Congresso,
continua com medo das investigações da CPI da Pandemia — os fatos teimam em atropelar as improvisadas versões sobre a desastrada e criminosa gestão dessa calamidade sanitária.
Sem nenhuma defesa plausível, Bolsonaro tenta sair das cordas inventando uma suposta nova questão. Estimulado pelos filhos, se apegou à mesma e fracassada lenga-lenga de seu guru Donald Trump quando percebeu que poderia ser derrotado nas urnas. Passou também a atacar o sistema de apuração dos votos. A ironia é que, mesmo algo confiável, o modelo americano é muito mais atrasado e menos imune a fraudes do que as bem sucedidas urnas eletrônicas no Brasil.
Mesmo assim, por mais inacreditável que pareça, a volta do voto impresso, com seu impressionante histórico de fraudes, virou a principal bandeira do bolsonarismo. Talvez por falta das outras que pautaram sua campanha e foram perdidas ao longo desses dois anos e meio de governo, como o combate à corrupção.
Ao mesmo tempo em que se dedica a visitar quartéis das Forças Armadas e de outras forças de segurança, mantendo-se na ativa como sindicalista militar, Jair Bolsonaro aposta nesse jogo para se cacifar na queda de braço com outros poderes da República. Aí soma esse suposto cacife para se impor pela força com a ridícula defesa do voto impresso como garantia da lisura das urnas para tentar enquadrar a Justiça. Parece e é meio maluco. Mas foram investidas como essa que lhe abriram uma avenida em instituições públicas como o Ministério Público e a Polícia Federal.
Seu inconsequente passo seguinte alarmou a Nação. Passou de todos os limites a ameaça de cancelar as eleições ano que vem. Ele e seu ministro da Defesa, Braga Netto, insistiram nessa presepada mesmo depois que o governo cedeu seus dedos, anéis e mãos ao Centrão. Isso esgotou a paciência da sociedade, que não se satisfez com a garantia de influentes generais da ativa e da reserva, entre eles, o vice-presidente Hamilton Mourão, de que não há risco de as Forças Armadas embarcarem em uma nova aventura ditatorial.
Nos últimos dias, a leviandade de Jair Bolsonaro nesse jogo de morde e assopra passou de todos os limites. Nessa segunda-feira (2), em uma rara demonstração de unidade da Justiça do Brasil, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral deram uma freio de arrumação nessa bagunça presidencial. Até agora, faziam apenas censuras verbais aos arroubos autoritários. Além de subirem o tom em suas manifestações, os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso articularam uma resposta mais concreta.
Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral pediu ao STF que inclua Bolsonaro entre os investigados no inquérito das fake news e abriu inquérito administrativo sobre uma penca de crimes que o presidente da República teria cometido em sua live na última quinta-feira quando, a pretexto de divulgar provas de fraudes nas eleições, usou a máquina pública, nada comprovou e ameaçou a realização das eleições.
Foi outro blefe de Bolsonaro. Só que o país não aguenta mais isso, e a Justiça resolveu pagar para ver.
A conferir.