Ao falar sobre a encrenca na Venezuela, Jair Bolsonaro disse nessa quinta-feira que “vamos até o limite do Itamaraty” para restaurar a democracia no país vizinho. Nossa política externa anda tão sem pé nem cabeça que essa declaração óbvia soou como alívio, interpretada como um abandono a desvarios de uma intervenção militar — aventura sempre descartada pelos generais brasileiros.
O problema é que a atual chancelaria brasileira, atropelando todas as cautelas históricas para livrar a região de conflitos bélicos, embarcou no vamos que vamos de assessores de Donald Trump confiantes de que a derrubada de Nicolás Maduro seria um passeio. Bastava lhe dar a passagem para um voo para Cuba e gorjetas para os generais que o mantem no poder.
Esse deslumbre do ministro Ernesto Araújo e do clã Bolsonaro, encantados com as boas relações com a trupe de Trump — mesmo sem nenhuma eficácia por ter sido contido pelo bom senso dos chefes militares brasileiro — reduziu o protagonismo do Brasil no sub continente sul-americano. É o preço de, em uma bola dividida regional, ficar a reboque dos Estados Unidos.
As autoridades em Brasília não escondem que estão perplexas, sem entenderem o que está rolando na Venezuela. É verdade que, mesmo depois do do fracasso da rebelião militar convocada por Juan Guaidó, a situação por lá continua nebulosa. Movem-se as peças ali sem a pressa costumeira para um xeque mate. A impressão é de que se aguarda o jogo jogado por outros jogadores. Entre Rússia e Estados Unidos.
Na segunda-feira (6), o secretário de Estado Mike Pompeo e o chanceler russo Sergei Lavrov, durante a reunião na Finlândia dos oito países do Conselho do Ártico, programaram uma conversa a sós sobre o impasse na Venezuela. Pode ser apenas jogo de cena.
O fato é que, depois das saias justas na Crimeia e na Síria, Vladimir Putin, com melhores cartas nas mãos, está adorando esse revival da Guerra Fria em plena América do Sul.
A conferir.