O que todo e qualquer manual, por mais tosco que seja, recomenda a governantes sob mira de investigações de comissões parlamentares é que desvie o foco sobre seus pontos frágeis. Bolsonaro faz justamente o contrário. O Palácio do Planalto faz gol atrás de gol contra. O excesso de arrogância embaça o procedimento mínimo nas relações com outros poderes. É chute na canela o tempo inteiro.
É um festival de faltas para cartões amarelos e vermelhos nesse jogo maluco. Nem precisa de VAR. Bolsonaro, sua trupe e seu governo entraram em parafuso. Falam asneiras em conversas institucionais que imaginam secretas. E deixam cada vez mais impressões digitais em intromissões indevidas no campo de jogo de outros poderes. Se não fossem uma estratégia palaciana, soariam como uma sabotagem de oposicionistas infiltrados no governo.
São seguidos tiros no pé, como as amadoras e inúteis investidas contra o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, que alimentam suas redes sociais, mas batem de frente com os outros poderes. Brigam com os times adversários, os juízes, o VAR e com quem assiste o jogo. Não tomam o menor cuidado. Cometem o erro básico de deixar em registros eletrônicos as digitais de funcionários do Planalto em pelo menos 11 requerimentos na CPI. Todos com a assinatura digital de Thais Amaral Moura, assessora da Secretaria Especial de Assuntos Parlamentares, vinculada à Secretaria de Governo.
A dúvida é se foi autorizada pela nova ministra, deputada Flávia Arruda, ou se seguia instruções do antigo chefe, general Luiz Eduardo Ramos, hoje abrigado na Casa Civil da Presidência da República, que confessou ter se vacinado escondido de Bolsonaro. Outro tiro no pé.
Por mais burra que seja a confissão das origens dos tais requerimentos, mais relevantes são os seus conteúdos. Eles pedem a convocação de médicos e prefeitos que prescrevem a cloroquina como tratamento precoce da Covid-19, mesmo depois de tantos estudos científicos mundo afora com a conclusão de que, além de ineficaz, pode provocar a morte dos pacientes. Essa, aliás, é uma das principais cartas na mão de quem quer ir fundo nas investigações na CPI.
Quanto mais se apavora com as apurações, Bolsonaro entrega de bandeja munição contra a sua desastrada e criminosa gestão da pandemia. Se seguir nessa mesma toada, a CPI nem precisa fazer o dever de casa. É só organizar o roteiro das confissões.
A conferir.