Herdeiros de Eduardo Campos usam reformas de Temer para manter controle do PSB

Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e neto de Arraes - Foto Orlando Brito

Os herdeiros políticos de Eduardo Campos em Pernambuco acompanham, com alguma apreensão, dois flertes que, na ótica deles, ameaçam sua hegemonia no PSB.

Um deles, o namoro com os tucanos em São Paulo, com perspectiva de se tornar casamento nacional em 2018. Chegou até a ser admitido diante da possibilidade de uma aliança em favor da candidatura de Márcio França ao Palácio do Bandeirantes e de Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto. Seria uma chance de ouro de o PSB comandar São Paulo.

O outro, o apoio ao governo Michel Temer, sempre foi apenas tolerado pela turma que, a partir de Pernambuco, dá as cartas na cúpula do PSB. Até porque com uma penca de ministros pernambucanos, não há um sequer que o governador Paulo Câmara e a família de Eduardo Campos possa chamar de seu.

Apesar de fortes divergências, dava-se tempo ao tempo para que elas fossem superadas. O sinal de alerta tocou quando uma articulação para eleger Márcio França presidente do partido começou a ganhar corpo.

O temor é de que, com o apoio de cargos e verbas federais, a tropa governista possa atropelar, em outubro, a reeleição de Carlos Siqueira e de boa parte da atual direção do PSB.

Eles, então, resolveram reagir. Foram ajudados pelos fatos.

O projeto para viabilizar a dobradinha Alckmin/França entrou em parafuso. Alckmin despencou nas pesquisas após ser alvejado pela Lava Jato. João Doria, carta nova no baralho, passou a ser cogitado entre os tucanos para o governo de São Paulo e até para o Planalto.

Com os parceiros tucanos baleados pelas delações da Odebrecht, boa parte de seus ministros e líderes igualmente atingidos, o governo Michel Temer ficou ainda menos atrativo para forças políticas que sempre o apoiaram com um pé atrás.

Para agravar a situação, o governo tem tomado uma surra na batalha da comunicação em relação às reformas trabalhista e da Previdência, temas sensíveis para as todas as bases eleitorais. Imagine para o PSB, tradicional partido de esquerda.

Foi justamente nesse campo que Carlos Siqueira e aliados resolveram atropelar seus concorrentes no partido. Primeiro, surpreenderam os parlamentares que vinham, inclusive em nome do partido, negociando mudanças nas propostas, com o fechamento de questão contra as reformas trabalhista e da Previdência.

“Não dá para ser assim. Depois de todas essas negociações, tomar uma posição dessa na véspera da votação. Para manter minha coerência e credibilidade, não volto atrás”, reagiu Heráclito Fortes, da ala governista.

A bancada rachou. A máquina do partido, com o apoio de suas seções temáticas – Juventude, Sindical, LGTB, Mulheres e Movimentos Populares – quer aproveitar o confronto para tirar os adversários do caminho.

Propõem, por exemplo, destituir a líder do partido na Câmara, Tereza Cristina (MS), que se rebelou contra o fechamento de questão, e punir todos os que a acompanharam na votação da reforma trabalhista.

O mesmo problema vai se repetir no Senado, onde os governistas têm quatro dos sete parlamentares do PSB. Um deles, o líder Fernando Bezerra, é pai do ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.

“A hora é agora. Mesmo que o partido encolha, temos que punir quem não obedece a orientação partidária para a defesa de nossas bandeiras históricas”, defende o deputado Júlio Delgado.

O pano de fundo dessa batalha nem são as chamadas divergências programáticas ou ideológicas, mas, sim, quem vai comandar o partido nas eleições de 2018.

Tudo indica que, com o porrete na mão, a atual direção se manterá no controle do partido.

A conferir.

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