Para quem disputa eleição ou o concorrido mercado de comunicação, um bordão pode fazer a diferença. Se o pior que está, não fica, de Tiririca, lhe rendeu uma montanha de votos, seus colegas parlamentares também se encantam com tiradas que, digamos, os tornam mais gente como a gente. O deputado Lúcio Vieira Lima, por exemplo, antes de virar um arredio cacique na gestão Michel Temer, fazia a festa com o escrachado humor com que se relacionava com outros deputados.
Quem continua o mesmo, também protagonista na luta pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, é o deputado Heráclito Fortes, ex-PMDB, PFL, hoje no partido socialista. Toda vez que alguém, pelos mais variados motivos, passa batido a seu lado, ouve um tonitroante “Bom dia, Boa Tarde, Boa Noite, Mercadante”. Heráclito voltou a ser deputado depois de uma temporada no Senado, onde conviveu com Aloizio Mercadante, que, até os próprios petistas dizem, se acha professor de Deus.
A brincadeira de Heráclito é sucesso certo. Mercadante é uma das poucas unanimidades na política nacional. Mas com esse tipo de comportamento, Heráclito, que chegou a integrar a elite do Senado, conseguiu se reintegrar na Câmara com extrema facilidade. Hoje, ele é candidato ao mandato tampão de presidente da Câmara com votos espalhados em quase todos os partidos, e se inscreveu formalmente na noite da sexta-feira (8).
Heráclito tem uma característica que lhe aumenta o cacife: ele é meio como o América do Rio e de Minas, o segundo time de todo o mundo. Numa eleição extemporânea como essa, com um número recorde de candidatos, isso pode até ser um trunfo.
Seu maior problema, porém, é que ainda não tem o apoio de seu próprio partido. Até agora, o candidato preferencial do PSB é o deputado Júlio Delgado, que concorreu às duas últimas eleições para a Presidência da Câmara. A tendência de Delgado é entrar no páreo ou apoiar um acordo em torno da candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segunda-feira, Heráclito e Delgado têm encontro marcado para tentar acertar os ponteiros.