Paulo Hartung cuidou de todos os detalhes para que a inauguração do novo aeroporto de Vitória, antigo sonho dos capixabas, fosse uma bela festa. Nem as investidas da senadora Rose de Freitas, sua adversária, uma das principais responsáveis pela retomada e conclusão das obras depois de 16 anos, parecia incomodá-lo.
Mas quando soube das prisões de José Yunes, do coronel João Batista Lima, e de Wagner Rossi, todos parceiros de Temer há décadas, Hartung se preocupou em não queimar o próprio filme. Não gostaria, por exemplo, em um dia tão complicado, aparecer no Jornal Nacional ao lado de Temer.
Passou a torcer para Temer cancelar a viagem. Disparou telefonemas para Brasília em busca de informações. Até que foi informado que Temer já estava na Base Aérea e iria embarcar.
Hartung, então, resolveu não comparecer e mandou o vice-governador César Conalgo representá-lo. A quem lhe perguntava os motivos da ausência de Hartung, Conalgo respondia apenas que ele teve uma indisposição.
Apanhado de surpresa, Temer tentou não passar recibo. Foi um aborrecimento a mais para quem já estava abalado com a prisão dos amigos. Aliados dele dizem que esse teria sido o motivo pelo qual ele cancelou uma programada entrevista coletiva.
Na realidade, foi uma desculpa para que Temer não tivesse que responder perguntas sobre a operação da PF. Também foi cancelado o almoço na residência oficial do governador capixaba na bela Praia da Costa.
Horas depois, Hartung divulgou nota em que, no seu estilo de sempre, deu o recado sem dizê-lo explicitamente de que não foi ao aeroporto por causa da operação da PF. “O país amanheceu mais uma vez sobressaltado com fatos políticos preocupantes”, escreveu.
Acompanhado de cinco ministros, Temer retornou a Brasília com mais um desafeto em seu caderninho.
Como Paulo Hartung é um político imprevisível, e já trocou meia dúzia de vezes de partido, a dúvida é se, com esse gesto, ele esteja arrumando as malas para desembarcar do MDB.
A conferir.