Haddad usa Lula para crescer e Dilma para escapar de cerco do JN

Dilma Rousseff é um estorvo para a campanha de Fernando Haddad. Seus adversários sabem disso. Na disputa pelo espólio eleitoral de Lula, Ciro Gomes e Marina Silva apostam em carimbar Haddad como uma nova versão de Dilma, desgastada por suas desastradas gestões no Palácio do Planalto.

Haddad  se esquiva dessas estocadas, faz algumas críticas pontuais a Dilma, e cada vez mais gruda em Lula. Essa estratégia vem dando certo. Ele subiu quatro pontos percentuais na pesquisa Datafolha, divulgada nessa sexta-feira (14), puxado por seu crescimento no Nordeste, e empatou na vice-liderança com Ciro Gomes. É o único com viés de alta no pelotão abaixo de Jair Bolsonaro. Ciro ficou do mesmo tamanho, Alckmin empacou e Marina Silva continua derretendo.

No mesmo Jornal Nacional que divulgou esses bons números para sua campanha, Fernando Haddad foi submetido a uma apertada sabatina por William Bonner e Renata Vasconcellos. Saiu-se bem e mal. Com seu jeito educado, bom moço, petista com plumagem tucana, expôs a postura algo inquisidora dos entrevistadores, marca registrada nessa rodada de presidenciáveis na bancada do Jornal Nacional.

Mas se enrolou quando, mais uma vez, tentou driblar perguntas pertinentes sobre a corrupção nos governos petistas com repostas evasivas. Repetiu a mesma baboseira de que os governos petistas são os responsáveis pela exposição da roubalheira, como se isso fosse um salvo-conduto para participarem da bandalheira. Nessa toada, seguiu a cartilha da burocracia do partido, que só enxerga roubo de dinheiro público pelos adversários, e se negou a reconhecer as comprovadas falcatruas dos correligionários. Assim, abriu o flanco.

Bonner, então, o encurralou. Apresentou a longa lista de caciques petistas encrencados na Lava Jato. Uns na cadeia, outros denunciados,réus confessos ou não, e vários investigados pelas mais variadas maracutaias. Entre eles, Bonner disse que havia dois ex-presidentes da República. Esperava-se que Haddad saísse em defesa de Lula. Qual o quê. Apegou-se ao caso de Dilma Rousseff — em nenhuma investigação ela é apontada como tendo embolsado propina — para romper o cerco e até arriscar um contra-ataque. Bem tímido, por sinal, se comparado às bordoadas na Globo desferidas por Bolsonaro na entrevista ao Jornal Nacional.

Foi uma saída com algum risco. No momento crucial sobre corrupção, ao optar por defender apenas Dilma pode pode ter desagradado militantes e devotos de Lula. Forneceu também munição para Ciro Gomes, que aparece no Datafolha como seu principal concorrente na disputa por uma vaga no segundo turno. É uma batalha, no momento empatada, por corações, mentes e votos no Nordeste.

Ciro tem outras cartas no baralho. Como já escrevi aqui, ele pode virar o Plano C de quem aposta em Alckmin e tem Marina como segunda opção. Alguns dados da pesquisa Datafolha indicam que já há movimentos nesse sentido. Alckmin entrou no páreo com duas certezas: era o preferido do establishment político e econômico e o favorito entre os eleitores mais ricos. Pois bem. O Datafolha mostra que Alckmin despencou nesse eleitorado. Ciro e Bolsonaro se beneficiaram desse tombo.

Depois de duas semanas de propaganda eleitoral no rádio e na tevê, a facada em Bolsonaro e a troca de bastão no PT, pela fotografia do momento o páreo se afunila entre Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes.

O imponderável é para onde vai o voto útil de quem prefere uma penca de candidatos identificados como de centro-direita — Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoêdo, hoje empatados no terceiro pelotão.

A conferir.

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