Quando vestem pijama, generais do Exército brasileiro costumam ficar mais falantes. Nas últimas décadas, ressabiados pela imagem negativa da ditadura militar, sussurravam entre os seus. Em reuniões fechadas do Clube Militar, no Rio de Janeiro, por exemplo. Quando muito isso repercutia como pé de página nos jornais.
O surpreendente sucesso político e eleitoral do capitão Jair Bolsonaro virou senha para generais de pijama saírem do armário. E passarem a pontificar sobre tudo e qualquer coisa. O general Hamilton Mourão trocou a presidência do Clube Militar pelo de vice-presidente na chapa de Bolsonaro — depois das recusas do senador Magno Malta, da jurista Janaína Paschoal e do general Augusto Heleno.
Mourão virou um incômodo para Bolsonaro e saco de pancada dos adversários pelo deslumbre de qualquer declaração virar notícia país afora. Não importa se a favor ou não. Os segundos como celebridade viraram irresistíveis.
Mourão fez escola entre seus pares. Seu vice-presidente no Clube Militar, general da reserva Eduardo José Barbosa, também se sente protagonista da ilusão de que o eventual sucesso de Bolsonaro seria o resgate das elucubrações militares em seus nichos para sonhar um Brasil diferente.
Nesse delírio peculiar, o general Eduardo Barbosa também se aventurou a palpitar sobre as leis que os civis, devidamente eleitos, devem aprovar ou reprovar. Em entrevista ao UOL, entre outras bobagens, propôs a redução do tempo da licença maternidade, um ônus a mais para os empresários. Justificou com o exemplo de sua filha que recebeu o benefício, e deixou na mão os empregadores que não tinham como substituí-la. Nada falou sobre o ônus de todos os contribuintes que arcam com despesas eternas com pensões para as filhas de militares, uma mordomia bilionária.
Esses desenvoltos generais de pijama trazem de volta a pauta sobre pensões, aposentadorias e privilégios de militares, concebidos como se o país vivesse permanentemente em guerra, mesmo vivendo em paz com outros países desde a Segunda Guerra Mundial.
Simples assim.