Na insana disputa sobre quem fala mais barbaridades nessas eleições, o clã Bolsonaro sempre esteve na pole position. A cada vídeo divulgado, com asneiras disfarçadas de brincadeira como fechar o STF, eles vão se tornando campeões. Nesse segundo turno, quando o foco fecha sobre os finalistas, rapidamente viram alvos nas redes sociais.
O estrago deles no eleitorado é relativo. A maioria arranha a imagem dos Bolsonaros onde eles já não são bem vistos. A repercussão do vídeo de Eduardo Bolsonaro com ameaça ao STF, assustou o comando da campanha de Jair Bolsonaro. O menor prejuízo foi dar pretexto para o “apoio crítico” de Marina Silva a Fernando Haddad e a indignada reações de instituições e entidades comprometidas com a democracia.
O problema para essas mobilizações em defesa da democracia é o contraponto em seguidos tiros no pé disparados pelos petistas. Se Bolsonaro defende de forma explícita a ditadura militar, o PT não passa nenhuma firmeza de compromisso efetivo com a democracia. As teses aprovadas em seus congressos, resoluções partidárias ainda em vigor, alimentam essa dúvida.
O argumento do PT é que, em seus 13 anos de reinado, eles obedeceram a Constituição. A questão é se eles o fizeram por falta de força, como alegam em seus documentos internos, devidos a contratempos como o caso Waldomiro Diniz e escândalos como o Mensalão e o Petrolão.
Da mesma forma que os petistas exploram vídeos para expor as barbaridades dos Bolsonaros, seus adversários também expõem gravações sobre barbaridades petistas. Um delas é o vídeo em que o deputado petista e advogado de Lula Wadih Damous propõs fechar o STF. Divulgado em larga escala nas redes sociais serviu como uma vacina à bazófia de Eduardo Bolsonaro.
Em outro vídeo, da tribuna do Senado, Gleisi Hoffmann — presidente do PT e porta-voz de Lula — diz que o juiz Sérgio Moro, com base na apuração sobre corrupção na Lava Jato, estimou um prejuízo de “6 bilhões de reais ou 6 bilhões de dólares” na Petrobras, algo, na sua avaliação, pouco significativo em relação ao bilionário faturamento geral da empresa. Se contabilizado em dólares, como ela mesmo admite, esse rombo insignificante é quase do tamanho do custo anual com o bem-sucedido Bolsa Família.
Mas a família Bolsonaro não quer perder sequer a competição de quem mais assusta com suas besteiras. Domingo, em discurso, transmitido pelo telão, que levou ao delírio seus seguidores na Avenida Paulista, Jair Bolsonaro distribuiu a torto e a direito ameaças a adversários, imprensa e o escambau. Falou como se estivesse prestes a virar dono do país. Outros tiveram essa pretensão – o PT foi o mais recente – e caíram do cavalo. O tombo pode ser ainda maior para um paraquedista como Bolsonaro.
Mas Gleisi Hoffmann, sempre ela, não quer ficar atrás nesse festival de insensatez. Em outro vídeo, ela aparece discorrendo como o primeiro turno das eleições gerais ocorreu uma fraude generalizada. Seus argumentos: o tamanho dos votos em Bolsonaro, os resultados surpreendente nas eleições estaduais no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília, e a não reeleição de Roberto Requião como senador pelo Paraná. Detalhe: Requião ouvia tudo isso com cara de constrangimento.
Na mesma linha da absurda proposta do PSOL à Justiça Eleitoral, Gleisi concluiu seu diagnóstico eleitoral com a proposta de suspensão do aplicativo Wathsapp – talvez o maior canal de comunicação entre amigos, famílias, e negócios do país – até o final das eleições. Um apagão, por censura estatal, nas conversas pelo aplicativo em todo o país.
O PT quer surfar nas manifestações antidemocráticas de Bolsonaro e de sua tropa. Em nome de combate-las, propõe absurdos do mesmo quilate.
É um jogo de perde perde. Não tem como dá certo.
A conferir.