Entre ilusão e realidade, o dilema que racha o PT em eleição sem Lula

Gleisi e Lula

Em política, à vezes vale mais a forma que o conteúdo. Pela maneira que se diz, o dito revela o não dito. Foi o caso na quinta-feira (17) de uma nota, assinada por todos os 9 senadores e os 60 deputados federais do PT, em que reafirmam sua “unidade” em defesa da candidatura de Lula ao Palácio do Planalto. Em vez de força e coesão, exibe um partido atormentado e dividido.

Ela foi redigida às pressas para tentar evitar que governadores petistas, hostilizados por Gleisi Hoffmann e a burocracia partidária, avaliem saídas diante do fato de que Lula, ao se tornar ficha suja, está fora da corrida ao Planalto. Um dique frágil e inútil.

Fernando Haddad

A nota, em si, apenas respalda a posição da direção nacional do PT, tomada a pedido do próprio Lula, de não abrir uma discussão sobre Planos B ou C na sucessão presidencial, como Fernando Haddad e Ciro Gomes. Boa parte do PT entende que essa não é uma alternativa real, apenas adia a solução do problema. Mas, para militantes e devotos, é fim de papo. Eles carimbam como traidores os petistas, e até aliados tradicionais, quem se dispõe a conversar sobre um cenário eleitoral sem Lula.

Esse patrulhamento, alimentado pela cúpula do partido, incomoda e irrita os que ainda têm cacife para disputar eleições. Os governadores são os exemplos mais notórios. “Não vão deixar Lula ser candidato. Isso é um fato. Não adianta a gente se enganar”, constatou Camilo Santana, governador do Ceará, em entrevista ao Estadão. “Quem pensa de verdade no partido, na sua história de luta, de conquista, não pode apostar no isolamento suicida”.
Na mesma linha, o governador Rui Costa, da Bahia, defende que até a virada do mês o PT anuncie o nome de um candidato alternativo a Lula.

Camilo Santana

Camilo Santana, Rui Costa, Fernando Pimentel em Minas Gerais, veem as eleições se aproximando e querem definir palanques. Outros líderes de expressão, como Tarso Genro, Olívio Dutra Jaques Wagner, há tempos vêm defendendo um Plano B ao impedimento de Lula.

Mesmo com história e peso eleitoral, são vozes que não sensibilizam a burocracia que comanda a máquina partidária. Na ótica dessa turma, o melhor é continuar esticando a corda. Não importa a sucessão de desgastes como a nova prisão de José Dirceu, o relatório da PF sobre o recebimento de propina por Gleisi Hoffmann, ou as seguidas derrotas de Lula na Justiça. Só admitem rever o rumo se e quando Lula mandar. Até lá a corda pode ter arrebentado.

A conferir.

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