A disputa agora é pelo espólio de Lula

Lula, foto Orlando Brito

Para quem entra no play da política a perspectiva de poder é a melhor adrenalina. Como em outros jogos de sedução, é nessa preliminar que a excitação é mais contagiante.

É assim que o mundo político — às claras ou de maneira dissimulada — se sente depois que os desembargadores do TRF-4 detonaram a ilusão de que Lula escaparia incólume do maior escândalo de corrupção já exposto neste país.

Por mais que se tergiverse, goste-se ou não, com a sentença dos três juízes, a candidatura Lula morreu em Porto Alegre.

Não há mágica ou bruxaria que livre Lula da Lei da Ficha Limpa.

As ameaças de caciques do PT e de dirigentes de entidades como o MST de que, se Lula for punido, incendeiam o país, são bravatas com prazo de validade vencido.
Quem assistiu a esse filme no processo de impeachment de Dilma Rousseff reconhece enredo semelhante e constata o mesmo fracasso de bilheteria.

Aqui e ali, avalia-se que as pesquisas eleitorais, mesmo as feitas à toque de caixa após a surra em Porto Alegre, podem dar um ânimo às hostes lulistas.
Podem, sim.
Aliás, para quem, por torcida ou análise, aposte que Lula possa escapar da Lei da Ficha Limpa, qualquer sinal positivo é sempre um trunfo.

Ignoram que, no país em que as leis não pegam, a Lei da Ficha Limpa pegou.

Sabem disso os políticos de todos os naipes, mais pragmáticos que os devotos em geral.

Não há tapume que esconda a cratera alargada em Porto Alegre. Nem para os petistas que buscam sobrevivência política ou foro privilegiado para escaparem de Sérgio Moro.
Os aliados puseram a barba de molho. No caso de Lula, em que a promiscuidade nas parcerias é tida como arte, eles são de todos os quadrantes.
Há quem aposte numa debandada puxada por caciques como José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho. Pode ser o contrário. Por experiência, manha e profissionalismo, se tiverem que trocar de barco, eles só saem quando sentirem que afundou mesmo.

Assim, quase ninguém nota.

São marinheiros, alguns com tempo e tarimba de almirantes, capazes de navegar com os pés em dois barcos diferentes, até que, com sutileza e esperteza, optam por um deles.

Quem mais se assanha com o fim de linha de Lula são seus possíveis herdeiros do chamado campo de esquerda. Uns lamentam de verdade porque contam com Lula como única corda de salvação.
Podem ser os mais estridentes no choro das carpideiras, mas há vozes com maior alcance nesse coro que esconde desejos ocultos.
O manancial de votos de Lula é seu espólio mais cobiçado pela turma de casa, por aliados e até por adversários.
Quem vai conquistá-los?
A conferir.

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