Parecia o plano perfeito. Diante do impasse na Câmara, em que a divisão do bolo entre tantos comensais gerou discórdia, optou-se pela aprovação pelo Senado, a toque de caixa, do tal Fundo Eleitoral com dinheiro público.
Ali, o acerto entre menos parceiros seria mais fácil. Dito e feito. Na terça-feira (26), o rolo compressor, pilotado por Romero Jucá e os senadores do PT, com o apoio mais discreto de outros colegas, atropelou quem se opôs ao acordão.
Todos lá sabiam que a opinião pública era contra. Quanto mais eficaz o arrastão, menor o desgaste. No Senado, a aprovação se deu por voto simbólico, em que apenas alguns puseram a cara a tapa.
O enredo previa que nessa quarta-feira (27), a fatura seria liquidada na Câmara. E até sexta-feira (29) sancionada por Michel Temer.
Não deu certo.
Tropeçou na Câmara. Não, digamos, por interessados na defesa dos contribuintes. Mas, sim, na partilha. Deputados de partidos com menor expressão no Senado se sentiram lesados pelo acerto entre os que lá dão as cartas. Não gostaram, também, de candidatos majoritários e cúpulas partidárias terem sido mais beneficiados.
Como sempre, Romero Jucá e seus parceiros recorreram ao provérbio português: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo, ou não tem arte”.
Criaram critérios para o rateio da grana pública entre os partidos que pareciam rigorosos, inclusive nos decimais. Chegaram a dizer que o projeto deles era mais generoso com partidos do Centrão do que o antes apreciado – e rejeitado – pela Câmara.
Na realidade, PMDB, PT e PSDB ficaram com a melhor parte. Talvez até com razão por terem sido vitoriosos nas eleições de 2014. Não conseguiram, no entanto, convencer disso o Centrão e outros partidos na Câmara.
Nem com a promessa de que Michel Temer vetaria os pontos rejeitados por essa turma. Sem acordo, bateram chapa: o pedido de urgência para o projeto oriundo do Senado não foi aprovado.
Semana que vem, aos 45 minutos do segundo tempo, vão tentar um acordo em torno de um novo rateio para o dinheiro do contribuinte para bancar as campanhas eleitorais.
Eles têm o mesmo propósito: conseguir grana para seus custos eleitorais. Venha da onde vier. Até as últimas eleições deles, em 2014, a fonte era o financiamento empresarial, que também bancava propina e Caixa 2, ajudando a eleger e a enriquecer boa parte dos políticos em todos os níveis.
Deu no que deu.
Como estão no mesmo barco, ele devem se entender. A conta, como sempre, será espetada no contribuinte.
A conferir.