O chamado fogo amigo é o que mais queima nas campanhas presidenciais nesse segundo turno. Faz subir as chamas na gangorra das rejeições a Jair Bolsonaro e a Fernando Haddad, a única que se move nesse jogo jogado. Sobem as brasas com vídeos do clã Bolsonaro e de aliados malucos fazendo ameaças contra a Justiça, a imprensa e a democracia.
Além de prepotentes, esses bolsonaristas são tolos. Dão tiros no pé com ameaças que não passam na primeira esquina do arcabouço democrático da nossa sólida Constituição. Falar asneiras, bazófias, acusações levianas, e denúncias vazias são um repertório igual nas campanhas de Haddad e de Bolsonaro.
No sobe e desce das rejeições, apurado na pesquisa do Ibope divulgada nessa terça-feira à noite, Haddad se saiu melhor. Ganhou alguns pontos e Bolsonaro perdeu outros. O problema para o PT é que, nas intenções de voto, continuou na mesma. Até agora a mudança de voto não é entre eles. É contra eles.
O que faz diferença, além da rejeição, é o que vendem ao eleitorado. Bolsonaro e companhia insistem no discurso de que são contra tudo o que está aí, do PT aos tucanos. Com a imagem dos políticos no fundo do poço, os militares e a turma da Lava Jato em alta, sua campanha continua nadando de braçada.
Haddad é uma nau sem rumo. Zarpou e ganhou alguma velocidade pelo sopro de Lula. Em algum momento, isso perdeu o fôlego. Nenhuma tentativa de repor o barco na raia deu resultado nesse segundo turno. Pelo contrário.
Se as barbaridades ditas pela turma de Bolsonaro foram seu destaque negativo nesse segundo turno, os puxões de orelha de aliados do PT atropelaram a tentativa de reação de Haddad. Eles têm sido bem mais mais fortes que seus patéticos, e infrutífero, pedidos de ajuda para Fernando Henrique, Ciro Gomes, Joaquim Barbosa, Tasso Jereissati, Alckmin…
Quando Cid Gomes chutou o pau da barraca, o PT, craque em narrativas, cravou que o motivo foi ele estar ressentido pela “suposta” rasteira que os petistas deram no irmão Ciro Gomes no primeiro turno. Não havia autocrítica a fazer. Mas como todo chumbo trocado entre políticos doeu e durou pouco.
Sem conseguir nenhum apoio relevante nesse segundo turno, o PT apostou nos artistas de sempre para um espetáculo no belo Arco da Lapa. Estavam lá Chico Buarque e Caetano Veloso. Seguia o script de sempre. Aí chegou a vez do rapper Mano Brown, uma das mais expressivas vozes de periferias de grandes cidades que antes apostavam em Lula e no PT.
Foi aí que o comício desandou. Mano Brown, que vinha desancando Bolsonaro em seus shows nas periferias, ao encarar a platéia petista, que aplaude a si mesma, também chutou o pau da barraca. “Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que deveria ser conquistada”.
Seguiu nessa mesma toada, apontando falhas na comunicação do PT com suas bases históricas. ” Se nós somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo, tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber”. Como Cid Gomes, ele foi vaiado pelos petistas. Deu outro recado. Disse que por tantos erros, a batalha contra Bolsonaro está perdida. “O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo”.
Caetano pegou o microfone para tentar remediar a fala de Mano Brown. Falou sobre uma conspiração de filósofos, talvez pensando em sua guerrinha particular com Olavo de Carvalho, bate boca de péssima categoria. Deixou saudade do inspirador Caetano Veloso de outros tempos.
Segue a vida.