Como Weintraub virou a principal cara civil do governo Bolsonaro

Mesmo com a cabeça a prêmio nas negociações políticas entre os poderes, Weintraub mantem o apoio do clã Bolsonaro que, com a saída de Mandetta e de Moro, ampliou sua influência no governo

Weintraub na reunião ministerial presidida por Bolsonaro em 22 de abril - Foto Divulgação/PR

O ministro Paulo Guedes, o Posto Ipiranga na economia, continua cumprindo à risca seu papel de acalmar os mercados. Por essa ótica, é o principal ministro do governo. Mas, cota militar à parte, depois das ruidosas saídas de Henrique Mandetta e de Sérgio Moro, ministros que davam um mínimo de credibilidade ao governo por causa de suas gestões nas pastas da Saúde e Justiça, a família Bolsonaro tomou conta de vez do pedaço.

No Planalto, Bolsonaro, Mandetta, Guedes e Moro no início da crise do coronavírus – Foto Orlando Brito

Os generais do governo ainda tentam por alguma ordem na casa. Mas os protegidos do clã Bolsonaro estão cada vez mais à vontade para sapatearem no palco. Abraham Weintraub, um desastre como ministro da Educação, inclusive na avaliação de alguns dos principais gabinetes do Palácio do Planalto, está ganhando sobrevida no governo por virar queridinho das alas mais radicais e malucas do bolsonarismo.

O espetáculo que encenou nessa quinta-feira ao fingir que foi depor em uma visita ao diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, para entregar uma mera defesa escrita por seus advogados, ganhou ares de deboche ao ser recebido como herói por uma meia dúzia de gatos pingados na saída da PF. Pegou um megafone, posou de defensor da liberdade de expressão, tendo como pano de fundo a Máscara Negra, a icônica sede nacional da Polícia Federal.

Bolsonaro e os filhos

Os filhos de Bolsonaro ignoraram a má repercussão entre os federais e aplaudiram o desempenho de Weintraub. Depois do show contra outros poderes da República protagonizado pelo presidente Bolsonaro em frente ao Forte Apache, o Quartel-General do Exército, sua turma perdeu o respeito por toda e qualquer instituição do Estado. Nem escodem mais a intenção de transformar a PF em mais um puxadinho do Palácio do Planalto.

Weintraub é só o exemplo mais vistoso dessa nova fase do governo em que se escancara que quem dá mesmo as cartas é o clã Bolsonaro. Eles também estão se deliciando com as manifestações, cada vez mais absurdas, contra todas as bandeiras e lutas dos movimentos negros pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo —  a frente de um órgão do Estado criado para ajudar no resgate de uma dívida praticamente impagável do Brasil com a escravidão.

Ganhou ponto nessa turma ainda a malandragem do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de tentar passar uma boiada contra medidas para preservar a natureza, quando a imprensa corretamente está focada na tragédia do novo coronavírus. É uma gente muito desclassificada em órgãos estratégicos como a Educação, a Cultura e o Meio-Ambiente para o futuro do país.

O presidente Bolsonaro e o chanceler Araújo – Foto Orlando Brito

Para fechar esse quadro governamental na contramão da história o chanceler Ernesto Araújo proclama que o Brasil voltou a ser respeitado no cenário mundial. Como assim? O carro-chefe dessa gestão é brigar contra a China, disparado nosso principal parceiro comercial, em negócios vitais para a nossa recuperação econômica pós a pandemia do Covid-19. Além de correr risco de uma grande perda, ganhamos o quê com isso? É uma política tão desastrada que os Estados Unidos, a meca desses malucos, está fechando as portas para qualquer acordo comercial com o Brasil. Países com poder de veto na União Européia adotam essa mesma linha.

O Brasil está ficando tão isolado que nossos vizinhos, dependentes de negócios com a gente, estão fechando as fronteiras por causa da irresponsabilidade da política de Bolsonaro no combate ao coronavírus. A propósito, continua a crescer o número de casos e de mortes enquanto um general interino faz figuração no Ministério da Saúde.

Nessa semana, pelo menos até aqui, o governo Bolsonaro baixou a bola nessa doidice de guerra contra o STF e o Congresso Nacional. Dizem que esse recuo se deve à insatisfação dos comandantes militares com as abusivas ameaças de uso das Forças Armadas contra a democracia. E mais que o preço dessa distensão é a saída de Weintraub do Ministério da Educação. Pode ocorrer ou não nesse governo ciclotímico.

A conferir.

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