Até governantes com pendores autoritários acabam tendo que dançar conforme a música em regimes democráticos. É a essa adequação que o governo Jair Bolsonaro, apesar de sua estridente apologia da ditadura militar, vem cada mais se se enquadrando. Nos últimos dias, algumas mexidas palacianas mudaram em parte a cara do próprio governo em questões sensíveis, como o meio ambiente, ao designar o vice-presidente Hamilton Mourão para coordenar as ações do governo na Amazônia e a troca de guarda na Cultura com a substituição do troglodita Roberto Alvim pela atriz Regina Duarte.
Outro exemplo é a dupla demissão de Vicenti Santini do alto escalão da Casa Civil, em que Bolsonaro preferiu manter coerência com suas críticas de que o funcionário a trabalho havia sido “imoral” ao requisitar uma avião da FAB para ir a Davos, na Suíça, e depois a Nova Deli, na Índia. Santini era tido como intocável no governo, pelo apoio dos irmãos Eduardo e Flávio Bolsonaro, e de outros discípulos de Olavo de Carvalho. Ao mandar demitir Vicenti Santini pela segunda vez em menos de 24 horas, Bolsonaro atendeu a ponderações dos ministros Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos.
Foi também essa dupla de generais que costurou um novo recuo de Bolsonaro em sua nova ofensiva para cortar as asas de Sérgio Moro e barrar os avanços da Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção, apoiada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro do STF Dias Toffoli. Na volta da Índia, Bolsonaro informou Sérgio Moro que desistiu de desmembrar a Segurança Pública do Ministério da Justiça e negou, também. a intenção de substituir o delegado Maurício Valeixo no comando da Polícia Federal.
Mesmo com outra derrota na queda de braço com Sérgio Moro, Rodrigo Maia e os principais caciques políticos não vão desistir da derrubada do ministro da Justiça, apesar de sua enorme popularidade. O temor deles é que, se fracassarem, Moro se torne franco favorito no páreo presidencial.
A curto prazo, as chances de vitória de Rodrigo Maia e seus aliados do Centrão são bem melhores no embate no governo com o pessoal do Olavo de Carvalho na disputa pelo Ministério da Educação, beneficiados por uma série inacreditável de trapalhadas. Nessa quinta-feira, o presidente da Câmara voltou a disparar contra o ministro Abraham Weintraub: “O ministro da Educação atrapalha o Brasil, atrapalha o futuro das nossas crianças, está comprometendo o futuro de muitas gerações. Cada ano que se perde com a ineficiência, com um discurso ideológico de péssima qualidade na administração, acaba prejudicando os anos seguintes. Mas quem demite e quem nomeia ministro é o presidente”.
Nas últimas semanas, em meio aos tropeços na gestão, Weintraub tem perdido importantes assessores. Nessa quinta-feira quem pediu o boné foi o Secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior. A expectativa no Congresso e no Governo é de troca em breve do ministro. O que se fala nesses bastidores é de que o substituto deverá ter reconhecida capacidade técnica na área de Educação. Seria mais uma derrota expressiva da turma de Olavo de Carvalho e do próprio clã Bolsonaro.
A conferir.