No melhor estilo façamos a mudança antes que o povo a faça, começam a pipocar no Brasil partidos que fingem não serem partidos na expectativa de surfarem na onda da rejeição aos políticos em geral.
Nesse sábado (1), nasceu em Brasília o Podemos. O rótulo é excelente. Remete ao “sim, nós podemos”, que alavancou a primeira campanha de Barack Obama à Casa Branca. Mas mira no sucesso do “Podemos” espanhol, um movimento contra a política tradicional que virou partido em 2014, com grande sucesso nas redes sociais e nas urnas.
O Podemos de lá disputa hoje a primazia nas esquerdas com o histórico Partido Socialista. O daqui estreou tendo como porta-bandeira o senador Álvaro Dias, seu potencial candidato ao Palácio do Planalto. Conta no time com outros craques como o senador Romário e Marcelinho Carioca.
O Podemos de cá tem como presidente Renata Abreu, uma jovem parlamentar federal, eleita por São Paulo, que se apresenta no mundo digital como deputada blogueira.
Uma de suas principais bandeiras é a renovação. O Podemos daqui é o novo nome do PTN, o Partido Trabalhista Nacional, fundado em meados da década de 90 do século passado pelo ex-deputado Dorival Masci Abreu, tio de Renata. Dorival morreu em 2004, assumiu o comando do partido José Masci Abreu, pai de Renata. Ele passou o bastão para ela.
A família Abreu virou notícia nacional em 2013, quando Paulo Masci de Abreu, outro tio de Renata, também do PTN, contratou José Dirceu, então condenado pelo Mensalão, como gerente do hotel Saint Peter em Brasília. Foi um escândalo. O contrato foi desfeito.
Outra novidade política por aqui é o Livres. Há três anos, surgiu um Livres em Portugal, com bandeiras como a defesa da Liberdade, da Europa, da Esquerda e da Ecologia, tendo como símbolo uma papoula vermelha. Entrou no jogo disputando espaço na esquerda.
No Brasil, a pegada é outra. Apresenta-se como “o primeiro partido startup no Brasil, em franco processo de renovação”. O Livres se define como uma tendência que está mudando o Partido Social Liberal. Quer liberar tudo, da maconha às armas.
Políticos jovens, como Sérgio Bivar e Antônio de Rueda, puxam esse movimento que sonha em ter o senador Reguffe, um político que se notabilizou no combate aos defeitos mais notórios dos políticos, como um de seus carros-chefes.
Desde que foi fundado na década de 90, o PSL tem como comandante em chefe o empresário Luciano Bivar, pai de Sérgio. Em 2006, com a bandeira do Imposto Único Federal, Luciano concorreu à Presidência da República. Hoje, ele é presidente de honra do partido.
A longevidade de Luciano Bivar no PSL só é inferior ao seu reinado no comando de um dos clubes mais populares de Pernambuco: Ele foi 6 vezes presidente do Sport Club do Recife.
Em meio a esse processo, antigo e viciado, de passagem de bastão, surgiu uma novidade diferente. É o chamado partido Novo, fundado em setembro de 2015 por executivos e profissionais liberais sem carreira política. Eles se definem como partido de direita, querem acabar com políticas de cotas, privatizar empresas estatais, tudo às claras em um discurso bem explicitado pelo executivo financeiro João Dionísio Amoêdo.
Quem sofreu com a ditadura militar, mesmo que discorde do que eles pregam, só tem a comemorar com a entrada na cena política de uma direita democrática. Nesse mercado da novidade política, assanham-se também outros protagonistas, como o prefeito de São Paulo, João Dória.
O que anima as mais variadas expectativas de quem até agora só esteve na periferia do páreo principal foi o cavalo de pau na França. Em apenas um ano, Emmanuel Macron deixou o barco socialista, lançou o movimento En Marche, venceu as eleições presidenciais e legislativas, baixou a bola da direita na Europa e alhures, e virou uma nova referência de poder mundo afora.
A Itália também costuma ser um exemplo para nós. A Lava Jato se inspira na Operação Mãos Limpas. Lá, rolou uma sequência de sucessos e fracassos que aqui causa preocupação. A dúvida é sobre o que sucederá à ruína de nosso sistema político.
Em meio a toda essa gangorra, a crise italiana produziu o 5 Estrelas, um movimento autodefinido como um não partido, com o propósito de escantear os partidos tradicionais, eleger cidadãos comuns e estabelecer uma democracia direta, através do uso da internet. O líder desse movimento é o comediante Beppe Grillo.
As votações obtidas por eles deram um nó na política italiana. Parecia um naufrágio. Mas, com todo seu jogo de corpo, o sistema parlamentarista sempre segura a onda. Bem diferente do engessado presidencialismo daqui que, há três anos, arrasta a corrente de uma crise com dois presidentes, eleitos pelas mesmas fraudes, obrigando o país a assistir suas agonias em praça pública. E a pagar o preço disso.
Em vez de modismos eleitorais, engana que eu gosto com os eleitores, os políticos brasileiros deveriam fazer uma mea culpa, e fazer uma reforma política e eleitoral de verdade. A política não pode continuar a ser apenas um negócio.
Já ganharam muito.
É hora de deixarem de ser cupins de crise.