Dá um certo tédio escrever sobre o joguinho de sempre de Renan Calheiros. Mas não dá para evitar porque, em suas artimanhas, ele continua sendo sucesso de público e de crítica.
Sem dúvida, com esse marketing de morde e assopra, ele consegue manter-se nas manchetes políticas, driblando as páginas policiais da Lava Jato.
Alimenta as mais variadas especulações, atrai a simpatia de opositores a um governo impopular, o que é bom para o jogo político em Brasília e até para melhorar suas chances eleitorais nas Alagoas. Dele e de Renan Filho.
A discordância pública de Renan em relação ao governo Michel Temer valoriza questões nacionais, como a reforma da Previdência, terceirização desenfreada do emprego, em que se apresenta como defensor de direitos dos trabalhadores.
Causas oportunas. Só tem a ganhar com isso.
Mas, quando se reúne com Temer ou seus emissários, Renan obriga seus experientes interlocutores a um exercício para entender o que exatamente ele quer.
Em meio a comparações entre Dunga e Tite, em devaneios sobre a capacidade de governar, raciocínios com duplos sentidos, ele insinua pedidos mais paroquiais.
Alguns deles:
- Criar o Ministério dos Portos a ser comandado por alguém indicado por ele. O nome que sempre leva na algibeira é Vinícius Nobre Lages, ex-ministro do Turismo, que Renan considera pau para toda a obra. Além do peso político, Renan tem outro trunfo: Vinícius tem bom currículo e é respeitado no meio acadêmico;
- Considerava certa a nomeação de Luciano Guimarães como desembargador do Tribunal Regional Federal da 5.a Região. Teria sido um acerto quando ainda era presidente do Senado. Foi atropelado pela escolha de outro nome, apadrinhado de Eunício Oliveira;
- Pressiona o governo para viabilizar projetos que ajudem o governo Renan Filho a respirar. Por exemplo, quer valorizar a antiga Companhia Energética de Alagoas, hoje a federalizada Eletrobrás Distribuidora Alagoas;
- Quer incluir cláusulas no projeto de recuperação fiscal dos estados que beneficiem Alagoas.
Nada mais legítimo do que Renan brigar pelo que pode ajudar seu estado.
O problema é a mistura de interesses. A agenda dele é confusa. Seu principal objetivo é sobreviver a Lava Jato. Para isso, atira para todos os lados.
Seria um problema menor se ele não fosse líder do PMDB no Senado, bancada com potencial de criar nuvens e fazer chover na República.
No fundo, é apenas mais um cacique morrendo de medo do tsunami da Lava Jato.