O blefe dos senadores para salvar Aécio Neves e o pescoço de cada um deles não deu certo. Quando a ministra Cármen Lúcia pautou o julgamento da questão pelo plenário do STF deu a senha para evitar o confronto.
Por esse script, a palavra final, como manda a Constituição, seria do Supremo. Um grupo de senadores, uma aliança entre tucanos, alguns petistas e a turma de Renan Calheiros, interpretou o bom senso de Cármen Lúcia como sinal de fraqueza.
Acharam que poderiam enquadrar o STF. Jogaram com cartas variadas, desde espalhar entre jornalistas, geralmente em off, que tinham uma ampla maioria para fazer e acontecer no plenário, até testar a sorte no próprio Supremo.
Os recursos apresentados por Aécio Neves e PSDB seriam relatados por um dos ministros da Segunda Turma. Na ótica deles, tinha tudo para dar certo. Preferiam que caísse nas mãos de Gilmar Mendes, mas aceitavam qualquer um, desde que não fosse Edson Fachin. Deram azar. Deu Fachin no sorteio eletrônico.
Ainda tentaram reverter a escolha, com um pedido para afastar Fachin. O próprio Fachin passou a bola para Carmén Lúcia que a devolveu redondinha. Fachin, então, rejeitou o recurso de Aécio para suspender sua punição até que o plenário do STF decida a questão.
Sobrou aos senadores a opção entre recolher as armas ou pôr uma faca no peito do STF. O risco de se atropelar o Supremo é o possível troco de quem tem a palavra final nesse embate. O confronto não é estimulado nem pelos ministros supostamente aliados dos senadores. “A gente não deve acender fósforo para saber ou querer saber se há gasolina no tanque”, advertiu Gilmar Mendes, surpreendentemente no papel de bombeiro.
A ala majoritária no PMDB do Senado, liderada por Eunício Oliveira e Raimundo Lira, resolveu esperar a decisão do STF. A turma de Renan reagiu. Resolveu virar o jogo no grito. Com problema de saúde, Romero Jucá, medicado, foi à tribuna e fez uma veemente discurso contra o adiamento da votação.
Jucá citou Jesus Cristo, bateu na Globo, disse que o procurador Rodrigo Janot era chefe de uma organização criminosa e concluiu que ou o Senado se faz respeitar agora ou não se impõe mais como poder da República. Cobrou coragem dos colegas. “O homem corajoso morre uma vez só. Os covardes morrem todos os dias”.
Jader Barbalho foi na mesma toada. Disse que o Senado para se afirmar como poder não pode esperar uma decisão do STF. “O Senado não pode passar o atestado de que não somos um poder. Não podemos aguardar que no dia 11 o Supremo diga se somos ou não um poder”.
Renan Calheiros pegou ainda mais pesado. “Se o Senado se submeter a isso é muito melhor dissolver o Senado. Se o Senado se submeter a isso, é melhor entregar as chaves do Senado ao STF”.
Ganharam o apoio de Fernando Collor e dos tucanos mais ligados a Aécio Neves.
O PT, como a gente previu aqui, depois de entrar de cabeça na articulação para salvar Aécio, e trombar com a própria militância, deu meia volta volver. Apegou-se à boia lançada por Cármen Lúcia. “Não podemos acirrar uma crise institucional em que ninguém ganha. O STF marcou uma data para votar e isso foi um gesto de distensionar. Vamos esperar”, jogou a toalha o petista Humberto Costa.
Em nome do partido, Lindbergh Farias, da tribuna, fez uma ginástica verbal para atacar a decisão do STF e defender o adiamento da votação. No mesmo diapasão, Gleisi Hoffmann e Jorge Vianna. “Não somos coerentes de ocasião”, tentou explicar Humberto Costa, no que soou, também, como uma estocada nos tucanos que deram uma guinada de 180 graus depois que Aécio Neves virou alvo do STF.
Aí se revezaram na tribuna Cristovam Buarque, Lídice da Mata, Otto Alencar, Randolfe Rodrigues, Antônio Carlos Valadares, Ronaldo Caiado, Kátia Abreu, Álvaro Dias, entre outros, para bater na tecla da prudência. Insistiram que o Senado tem que esperar, não pode atravessar uma decisão do STF, em respeito à Constituição.
A questão foi a votos. Resultado: por 50 a 21 votos, a cautela venceu o grito de alguns mais desesperados com a Lava Jato. Mas eles não vão desistir.
A conferir.