Nessa instável pré-campanha eleitoral as apostas são ainda mais arriscadas. Mesmo assim, com base em pesquisas ou apenas impressões, os palpites de quem é ou não do ramo correm soltos.
A cada presidenciável com razoável expectativa de vitória que deixa o páreo, por vontade própria ou não, além de causar turbulências, deixa o cenário ainda mais incerto.
Luciano Huck pulou fora ainda na pré-temporada. Lula foi punido com cartão vermelho, ao se tornar legalmente ficha suja, e deixou frustrada uma grande e apaixonada torcida. Joaquim Barbosa sequer treinou, mesmo assim já era avaliado como um dos favoritos.
A cada grande mudança no grid de largada, há uma revisão de prognósticos.
Mesmo na cadeia, cumprindo pena pela condenação por corrupção, Lula continua um grande player. Mas não pode entrar em campo. Apesar disso, a burocracia do PT, Gleisi Hoffmann como porta-voz, simplesmente veta qualquer conversa interna ou com aliados sobre eventuais alternativas. Em entrevista a Cátia Seabra, Luiz Marinho deixa entender que, sem Lula, o partido corre risco de rachar na sucessão presidencial. Disse ele: “A busca de um Plano B seria antecipar uma discussão. Não precisamos gastar energia com isso. Não haveria consenso”.
Se tem sérias dificuldades para se entender em torno de um candidato petista, como Fernando Haddad e Jaques Wagner, quem comanda a máquina partidária não quer nem ouvir falar sobre a alternativa Ciro Gomes. Evidente que se Lula mandar eles darão o dito pelo não dito.
Mas, para os que continuam no páreo, quem ganha ou perde?
Em tese, todos ganham. Em especial, os candidatos, são vários, cujos eleitores começavam a avaliar a possibilidade de votar em Joaquim Barbosa. Ficou a expectativa de não perde-los.
Jair Bolsonaro se livra da ameaça de alguém, sem o ranço de extrema-direita, fisgar quem o apoia por causa da profunda crise de segurança
pública país afora.
Ciro Gomes perde um forte concorrente a se tornar um polo das forças de centro-esquerda. Pode atrair o PC do B e, pelo menos em parte, o PSB, o que isolaria o PT.
Geraldo Alckmin, que costura uma aliança entre máquinas partidárias, com hegemonia de centro-direita, espera também se beneficiar com a saída de Joaquim. Ele se aproxima de Michel Temer, na expectativa de agregar parte do MDB e a máquina do governo federal.
O xis da questão para Alckmin: a parceria com Temer rende votos? Na avaliação de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, qualquer candidato associado ao governo terá mais a perder do que a ganhar.
O problema é se parte do eleitorado tucano, que não esconde certa ojeriza à turma que dá as cartas no Planalto, se mantém fiel ou troca de ninho.
Quem pode se beneficiar dessa eventual debandada é Álvaro Dias, se conseguir viabilizar sua candidatura em um coligação do seu Podemos com o Democratas e o PRB. No Sul do País, como mostram as pesquisas, Álvaro Dias tem atraído boa parte do eleitorado tucano.
Marina sempre aparece bem nas pesquisas. Ainda assim, concorrentes, profissionais de eleição, políticos em geral e jornalistas põem poucas fichas no sucesso de sua candidatura.
São vários os motivos. Um deles, é a lembrança de que, em 2014, quando parecia favorita, ela murchou diante do jogo sujo da campanha de Dilma Rousseff, pilotada por João Santana. Outro é o que avaliam como incapacidade da Rede não conseguir atrair apoio de parlamentares e de outros partidos, que lhe renderia um mínimo de tempo na campanha na tevê.Uma terceira explicação para esse ceticismo é que Marina não parece estar em campanha.
Ela continua jogando parada. O que, se é ruim por um lado, pode não afetar tanto pelo outro, porque, entre todos os candidatos efetivamente no páreo, ela é a mais conhecida.
Marina diz apostar em suas parceiras com movimentos inovadores da sociedade civil. Assim, se distancia dos políticos e, com a saída de Joaquim Barbosa, um autêntico outsider, pode ocupar esse espaço. “Marina deve ser a maior beneficiária das intenções de voto em Joaquim Barbosa”, aposta Mauro Paulino.
Como as grandes máquinas partidárias foram corroídas pela corrupção, com certeza elas não serão nem sombra do peso que tiveram nas últimas eleições presidenciais.
Isso abre janelas de oportunidades para vários candidatos, com modestas estruturas partidárias, mas razoáveis intenções de voto. Um deles é a própria Marina, se ela não tropeçar nas próprias pernas.
A conferir.