Como a elite política espera a morte chegar

Ministro Edson Fachin - Foto Orlando Brito

A política é como uma onda que se propaga. Quando pega vento a favor, ganha velocidades espantosas. Sempre foi assim, em todos os tempos, mundo afora. Quem navegou em sintonia com as correntes de ar teve a vantagem de narrar primeiro.

Alguns ganharam, outros perderam, enquanto o mar estava apenas revolto. Chegou a hora da verdade. Nenhum almirante da política brasileira consegue achar uma saída para enfrentar o tsunami da Lava Jato.

Lula, Aécio Neves,Renan Calheiros, Michel Temer, José Serra, José Sarney, Eliseu Padilha, Rodrigo Maia e toda a elite política brasileira têm consciência da enrascada em que se meteram. O que os unem é o desejo comum de escapar da encrenca.

Alguns preferem fingir de mortos, outros esperneiam.

Mas suas aflições reverberam. Em dia de casa cheia, o fervilhante Cafezinho dos Deputados é um bom termômetro disso. Ali, é possível medir esperanças, frustrações, lucros, humor, tensão, medo, e até alguns delírios.

O sonho da grande maioria é virar o disco da Lava Jato. Essa é a maior angústia, generalizada. Imaginam mil e uma soluções, todas improváveis, e se quedam diante da própria impotência.

Alguns falam grosso e aderem ao discurso de acabar com a “tirania” de delegados, procuradores e juízes. Cobram coragem dos colegas para enfrentar essa guerra.

Outros, mais experientes, advertem que, se forem para o tudo ou nada, correm riscos ainda maiores. Se tiverem sucesso no Congresso, vão desagradar a opinião pública e podem, simplesmente, ter suas decisões vetadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Dupla derrota.

Esse receio trava rebeliões coletivas como a da “noite dos horrores”, a madrugada que o plenário da Câmara desembestou e transformou em um monstrengo as 10 propostas do Ministério Público contra a corrupção.

Então, o que fazer? Para quem sempre deu nó em pingo de água, alternativas há. O difícil é viabilizá-las. Até porque eles não se entendem na Câmara, e, quando lá conseguem um mínimo de entendimento, não chegam a um acordo com os senadores.

Pior. Quando tudo parece acertado, a reação da sociedade atropela.

Resta esperar  o ministro Edison Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, autorizar a divulgação do conteúdo das delações da Odebrecht. Até lá não conseguem baixar a adrenalina.

Como define o deputado Lúcio Vieira Lima, que mantém o humor mesmo em momentos de tensão, “estamos esperando a morte chegar”.

É uma citação ao refrão de Ouro de Tolo, um dos maiores clássicos de Raul Seixas.

Vale lembrar: “Eu que não me sento no trono de um apartamento/ com a boca escancarada cheia de dentes/ esperando a morte chegar”.

À espera da tempestade da Lava Jato.

A conferir.

 

 

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