A transição que o governo Temer se propõe a fazer, com remédios amargos, tem na bula algo como alguma concordância sobre a sua aplicação.
A dose tem de ser proporcional a enfermidade. Tem que pelo menos aliviar a gravidade do que, por descuido ou interesse, quase mata o paciente.
Por tudo o que se sabe há um bom preço a ser debitado na conta de Lula, mas quem acabou pondo a dose letal no país foi Dilma.
Com todo esse histórico e parceria com quem se beneficiou dessa epidemia, Michel Temer entrou em cena se apresentando como o avesso do avesso.
Só chegou lá porque se acreditava que ele tinha uma mercadoria a entregar: tirar o Brasil do brejo, a que preço custar.
Tentou até ensaiar algo mais, com a tal conversa de uma equipe enxuta de notáveis. Teve de recuar e recompor suas forças com o mundinho medíocre, fisiológico e corrupto que dá as cartas na política brasileira.
Foi aí que Michel Temer pagou o primeiro pedágio. Nem ele, Dilma, Lula, Fernando Henrique conseguiram escapar do jogo jogado no submundo da política brasileira.
Teve que nomear a equipe que conseguiu montar. Para variar, como seus antecessores, com mediocridades gritantes.
Na ótica da elite econômica, com aval da mídia, uma concessão aceitável para conseguir uma base política capaz de aprovar até medidas impopulares para tirar o país do buraco.
Chegou a hora dessa conta ser paga.
O que parecia precificado deu problema. Nas últimas semanas, o governo não conseguiu aprovar nada relevante na Câmara. Nem quando entrou em uma briga justa, em que nem tinha que se meter, como a regulamentação do Uber.
Surra atrás de surra.
O recado parece ter sido entendido. Depois de ter vendido o filme para os mercados, a turma palaciana negociou com a planície.
Negociou uma reforma da Previdência aquém do que o mercado pedia, mais aceitável pela população, e com potencial de influenciar um gradual ajuste fiscal.
É assim que as democracias funcionam no mundo inteiro.