Por razões variadas, a maré não tem sido boa para as esquerdas em boa parte do mundo. O tombo aqui teve razões de sobra — envolvimento com corrupção, má administração e fadiga de material, entre outras. São muitos os diagnósticos para essa queda. O que mais impressiona, no entanto, é a sua incapacidade de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Desde que o PT, seu carro-chefe, foi flagrado em uma sucessão de escândalos que resultaram no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula, as esquerdas se meteram num enrosco até agora sem saída. Os caminhos diferentes na sucessão presidencial, no enfrentamento de um tosco projeto de parte da direita, pareciam sugerir alternativas capazes de virar o jogo.
O bate cabeça da porção surrealista do governo Bolsonaro abriu veredas. Em uma delas, a deputada Tabata Amaral estreou na Câmara já como protagonista por simples e certeiros questionamentos sobre o desvario na Educação, um xodó das esquerdas. Foi o suficiente para os caciques de seu partido, o PDT, quererem lançá-la candidata à Prefeitura de São Paulo. Com a mesma precipitação, nessa quarta-feira (10) Carlos Lupi e outros caciques do PDT ameaçaram expulsá-la e a outros sete deputados do partido por terem votado a favor da reforma da Previdência.
Mesma postura dos donos do PSB em relação a 11 deputados que ignoraram o cabresto e votaram a favor da reforma da Previdência. Isso deu um nó na cabeça de caciques da velha esquerda, que tomaram uma surra histórica. A dificuldade anterior sempre foi, quando o pragmatismo no governo falava mais alto, enquadrar a turma para votar a favor de alguma restrição para as aposentadorias. Nem Lula, no auge de sua popularidade, conseguiu evitar uma dissidência que criou o P-Sol.
As esquerdas recusaram o tapete estendido por Rodrigo Maia, que tinha o aval de seus governadores, para participarem da construção de um projeto comum, até à revelia de Bolsonaro, para a tirar a Previdência e o país do buraco. Avaliaram o convite como gesto de fraqueza. Cometeram um erro crasso.
O que mais causou impressão nos debates na CCJ, Comissão Especial e Plenário da Câmara foi a perplexidade das esquerdas com o insucesso de um discurso nunca antes fracassado. Estavam acostumados a ligar o piloto automático para falar contra mudanças na previdência. Apostavam no tabu. Até tinham motivos: em abril de 2017, pesquisa Datafolha apurou que 71% dos entrevistados eram contra a reforma da Previdência. Dois anos depois, três meses atrás, 51% continuavam contra. Só na semana passada, o Datafolha constatou uma virada, por pequena margem, 47% a favor e 44% contra.
Nada disso buliu na narrativa, repetida à exaustão pelo PT e seus aliados, de que um conjunto de forças se uniu para derrubar Dilma Rousseff, com o propósito de tirar Lula do páreo presidencial, e depois derrubar todas as conquistas sociais desde Getúlio Vargas, em prol do capitalismo financeiro internacional. A bola da vez agora é a Previdência.
As esquerdas, à reboque do PT, só sentiram necessidade de argumentos mais consistentes depois de derrotadas. Aí passaram a atribuir o fracasso de sua narrativa a gastos do governo com publicidade e à manipulação da mídia. O povo, mais uma vez, está sendo iludido. Erro zero deles.
Melhor punir a Tabata Amaral.
A conferir.