O que ganhou ares de crise institucional em pleno Carnaval cheira agora a barganha quando Brasília volta a sua rotina. Só não foi fechado um acordo, com todas as pompas e circunstâncias, pela desconfiança entre Câmara, Senado e Palácio do Planalto sobre quem levaria melhor no rateio de R$ 15 bilhões dos R$ 30 bilhões postos no balcão no rastro do tal Orçamento Impositivo.
Na lábia, os parlamentares já haviam vencido o jogo. A gula do Centrão, principal eixo de sustentação de Rodrigo Maia, que tentou abocanhar todos os R$ 30 bilhões, assustou tanto o Planalto quanto o Senado, a quem sobraria migalhas (milionárias, é verdade) diante de tamanho butim. Evidente que a Rodrigo Maia e a Davi Alcolumbre, os fiadores de qualquer acordo com toda essa grana ou com metade dela, teriam munição para abastecer aliados nesse ano eleitoral. O que se murmurava no Congresso, e foi gritado pelo senador Major Olímpio, líder do PSL, é que essa dinheirama poderia pavimentar os projetos de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia de esticarem sua permanência no poder no Senado e na Câmara.
Alcolumbre tomou a frente das negociações e praticamente acertou o rateio da grana com a equipe do presidente Bolsonaro que, seguindo o script da barganha, enviou três projetos ao Congresso para serem aprovados a toque de caixa e, em seguida, sancionados por ele. Só então seus vetos seriam confirmados pelo parlamento. Esse pagamento antecipado por um acordo do presidente da República com o Congresso foi uma exigência do desconfiado Centrão praticamente aceito por todas as partes.T
udo teria ocorrido assim, dessa forma escancarada, se não fosse a reação do grupo chamada Muda Senado, liderado por Álvaro Dias e Randolfe Rodrigues, que obteve o apoio de velhas raposas políticas assustadas com a facilidade que o Centrão passou a dar as cartas no Orçamento da União. O MDB de Renan Calheiros e Eduardo Braga engrossou a reação da banda liderada por Simone Tebet. Os tucanos também fecharam questão. Davi Alcolumbre ficou sem chão.
Como sempre, ele mudou de lado. Passou uma inversão de pauta em que se vota os vetos de Bolsonaro nessa quarta-feira e se aprecia semana que vem os três projetos de lei enviados nessa terça-feira pelo presidente, a serem até lá examinados com lupa. Bolsonaro, por exemplo, disse em suas redes sociais que não abriu mão nessas propostas de nenhum tostão do Orçamento — a turma do Centrão não só enxergou ali R$15 bilhões como tentou superar a resistência do Senado oferecendo R$ 5 bilhões para serem rateados entre os senadores.
Tudo isso é importante. É muito dinheiro em jogo em um país tão carente. É relevante na democracia que parlamento e executivo discutam, disputem cada centavo a ser aplicado do Orçamento da União, faz parte do mandato de cada um deles. O que não é legal são as ameaças de virar a mesa, atropelar as regras democráticas. E nem fazer barganha por cima e por baixo do pano. É o que está, disfarçado ou não, nesse momento no tabuleiro.
A conferir.