Há tempos não se via uma expectativa tão tensa como a que precedeu o julgamento do habeas corpus para Lula no Supremo Tribunal Federal. Embora longa, e nervosa, a sessão em si aos poucos baixou a bola. O resultado frustrou uns e alegrou outros.
Evidente a frustração dos que apostaram na obtenção de um duradouro salvo-conduto para Lula. Seu guarda-chuva foi recolhido. Sua ida para a cadeia depende agora dos juízes de Porto Alegre.
As apostas em defensores com mais peso, argumentos mais sofisticados, nas instâncias superiores da Justiça, também fracassaram. A começar por Sepúlveda Pertence, a banca de advogados que acompanhou a longa sessão do STF se sentia em casa.
De nada adiantou.
A retaguarda política, com a participação do próprio Lula, Michel Temer, Aécio Neves, José Sarney, entre outros, também não resolveu.
O que, afinal, aconteceu no STF?
Teria havido alguma influência das intempestivas declarações de comandantes militares?
Pelo que viu e se ouviu, elas só serviram para a presidente Cármen Lúcia e o decano Celso de Mello, com toda a propriedade, devolver cada um para seu quadradinho.
O que, de fato, chamou a atenção foi o otimismo dos que apostavam em começar com Lula um liberou geral para caciques de todos os naipes. Eles cantaram vitória antes mesmo do jogo.
Quem olhava de fora, sem saber ao certo os trunfos que eles detinham, mantinha alguma dúvida sobre dois votos: Alexandre de Moraes e Rosa Weber.
Por suas posições e votos, Alexandre nem deveria ser dúvida.
Mas os que sempre enxergam subordinação entre quem indica e o indicado avaliava que o ministro acataria um suposto pedido de Michel Temer para salvar Lula.
Essa ilusão sequer prosperou. Antes mesmo da sessão, colegas de Alexandre de Moares descartaram essa possibilidade.
Rosa Weber também não deveria entrar nas contas de quem queria salvar Lula. Por seus votos e nos sinais em suas contidas manifestações parecia claro que, mesmo contra suas avaliações pessoais, ela seguiria o critério de respeito ao colegiado.
Quem raciocinava com esses argumentos era olhado com desdém por quem parecia saber bem mais sobre o voto da ministra. Antes e até durante o julgamento, advogados de outros acusados e os de Lula esbanjavam otimismo.
Alguém soprou que Rosa Weber votaria a favor do habeas corpus para Lula.
A discussão entre os advogados era se valia ou não aceitar a proposta intermediária sugerida por Dias Toffoli, e apresentada em plenário por Gilmar Mendes, de o STJ dar a última palavra. Seria um tal de trânsito em julgado progressivo. Meio a contragosto, advogados como Almeida Castro, Kakay, admitiam aceitá-la.
O tititi foi tão grande que até os ministros do STF acreditaram na lorota. Luís Roberto Barroso foi um deles. Ao final de seu longo voto, convencido de que Rosa Weber, a próxima a votar, selaria sua derrota, chegou a sugerir uma fórmula menos dolorosa para a recusa da punição a partir da condenação em segunda instância.
Mais que surpreender, o resultado mostrou que, com todo o favoritismo, todas as batalhas na Justiça e no Parlamento para a resgatar a velha e boa impunidade eterna têm morrido na praia.
Evidente que a votação no STF, que colocou o intocável Lula na marca do pênalti, deu gás a Lava Jato e as outras investigações sobre corrupção com dinheiro público.
Mas nem de longe desanimou a turma que, na Justiça ou no Congresso, quer virar o jogo.
Como a intervenção no Rio impede a votação de emendas constitucionais no Parlamento, a ofensiva vai continuar no Supremo. Se não der certo, volta ao Congresso.
A conferir.