Como em todos os escândalos, os políticos encrencados na Lava Jato tentam se esconder, escapulir ou pagar uma punição menor.
Quem não tem foro privilegiado, como qualquer cidadão, está sendo investigado, denunciado e julgado.
Pode ser absolvido ou condenado.
Uns foram inocentados, alguns estão na cadeia, outros aguardam julgamento.
É aí que, aplaudida ou criticada, a Justiça tem mostrado a cara.
Quem tem foro privilegiado, com data de validade próxima do vencimento — como deputados, governadores e dois terços do Senado –, tenta escapar de mudança de jurisdição. Todos querem ficar longe de Sérgio Moro e de seus colegas.
O caminho mais curto seria aprovar no Congresso Nacional algum tipo de anistia para quem embolsou ou se beneficiou de dinheiro sujo. Para eles, o melhor dos mundos seria, também, sua extensão a quem já está na cadeia, ou prestes a se mudar pra lá, cessando o dominó de delações premiadas.
A alternativa seria renovar os mandatos nas urnas, mantendo o foro privilegiado. Só que, com essa inédita e explosiva exposição da corrupção, ninguém tem certeza de passar no teste. Daí a dúvida de caciques de todos os naipes de encarar voos maiores como a eleição ou a reeleição para o Senado.
No meio desse imbróglio, entra até quem não deveria ter pressa, por ter conseguido se eleger por 8 anos, antes da debacle geral dos políticos no país. São poucos. Só senadores envolvidos na Lava Jato que têm mandato até 2022.
Os dois casos mais emblemáticos – José Serra e Fernando Collor — optaram por caminhos diferentes.
José Serra desistiu de concorrer ao governo de São Paulo por dois motivos. O mais óbvio é que seria abatido na campanha pelo que até aqui se divulgou nas investigações da Lava Jato. O outro, pelo que dizem pessoas próximas dele, é a expectativa das apurações, em seu término, não comprovarem as suspeitas e os indícios que hoje o colocam na berlinda.
Se com Serra ainda pode haver dúvidas, com Fernando Collor só há certezas.
Investigadores da Lava Jato dizem que, se a fila andasse no STF, a penca de inquéritos contra Collor já teria produzido resultados. Avaliam que, se fosse na primeira instância, só pelas provas de falcatruas na BR Distribuidora, ele já estaria condenado.
Collor sabe que sua situação é complicada até no STF.
Mesmo com alguma loteria em suas decisões, o Supremo tem mandado para a cadeia personagens, como ele, emblemáticos da corrupção: Paulo Maluf, Eduardo Cunha e Luiz Estevão…
Diferente de Serra, Collor sabe que não pode hibernar.
Na sexta-feira (19) de janeiro, ele anunciou nova candidatura à Presidência da República na Rádio Gazeta de Arapiraca, uma emissora de sua família.
Escolheu bem a data. Os políticos estavam de férias e a nota só do noticiário era o julgamento cinco dias depois de Lula pelo TRF-4.
Como quem não quer nada, Collor pegou carona no impacto do julgamento de Lula pelos desembargadores de Porto Alegre para refazer sua própria narrativa.
Diz que entra no páreo presidencial para defender seu legado e se defender de uma perseguição judicial.
Qualquer semelhança nada tem de coincidência.
A conferir.