Os militares até tentam dourar a pílula, mas o fato é que perderam a batalha pelo comando do Ministério da Educação. Amenizam a derrota com o fato de o novo ministro Abraham Weintraub ter participado ativamente da equipe que preparou o programa de governo sob a batuta do general Heleno Augusto. Mas, em momento algum, ele foi uma alternativa dos generais para substituir Vélez Rodriguez. Só chegou lá porque teve o apoio decisivo do clã Bolsonaro, que se recusou a aceitar o script em que o guru Olavo de Carvalho sairia derrotado.
Depois de uma série de trapalhadas de apadrinhados da família presidencial e de declarações desastradas dos filhos de Bolsonaro, os militares em cargos estratégicos avaliavam que tinham cacife suficiente para bancar um freio de arrumação no governo. O primeiro passo seria na Educação. Ali parecia fácil tamanha a confusão na gestão Vélez Rodriguez, uma aposta fracassada de Olavo de Carvalho. A sucessão, porém, seguiu outros critérios.
Depois de anunciar a troca de guarda no Ministério da Educação, Jair Bolsonaro fez questão de deixar claro que, entre todos os grupos no governo, a influência de sua família tem um peso maior. Em especial, o polêmico e controvertido Carlos Bolsonaro, o 02, que continua a dar as cartas em suas redes sociais. “Ele que me colocou aqui…Acho que deveria ser ministro, mas ele não está pleiteando isso. Foi a mídia dele que me colocou aqui”, afirmou o presidente em entrevista a Augusto Nunes na rádio Jovem Pan.
Em suas redes sociais, Carlos e o irmão Eduardo Bolsonaro bateram bumbo para o reconhecimento paterno. “Afastar Carlos de Jair Bolsonaro seria um tremendo erro que só interessa a parte da imprensa incentivar. Combater o sistema significa uma luta diária, ranger de dentes e etc. Sabíamos que seria assim. Vamos adiante!”, aplaudiu Eduardo, em seu Twitter.
Mas a briga continua. Nas próximas horas será definido se o brigadeiro Ricardo Machado Vieira fica na Secretaria Executiva do MEC ou cede o cargo para Eduardo Melo resgatar o comando dos Olavetes no ministério. Em outra frente, a disputa saiu do trilho na Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Em países com expressivo comércio exterior, agências semelhantes são órgãos técnicos com o relevante papel de alavancar negócios. Desde o começo do governo Bolsonaro, a Apex virou uma casa da mãe Joana. Seu primeiro presidente, Alex Carreiro, que sequer falava inglês, confiante no apadrinhamento do primogênito Flávio Bolsonaro, já chegou metendo os pés pelas mãos. Acabou demitido pelo ministro Ernesto Araújo, em outra trapalhada. “O chanceler não tem autonomia para demitir. Quem nomeia e exonera o presidente da Apex é o presidente da República”, afirmou Carreiro se recuando a deixar o cargo.
Para evitar novos desgastes, Ernesto Araújo escolheu o embaixador Mário Vilalva para comandar a Apex. Não deu certo. Vilalva bateu de frente com os diretores Letícia Castelani e Márcio Coimbra, bancados pelo ministro e pelo guru Olavo de Carvalho, em torno de negócios ainda nebulosos. A versão de aliados de Letícia dizem que ela barrou a contratação de uma empresa envolvida na Lava Jato. Defensores do embaixador Vilalva, inclusive na área militar, afirmam que, ao contrário, ele estaria barrando negócios esquisitos.
Pelo andar da carruagem, pode surgir aí o primeiro escândalo no governo Bolsonaro. Nessa queda de braço, o embaixador Vilalva, que estaria respaldado pelo general Santos Cruz, ministro do Governo, baixou uma portaria que, entre outras coisas, retirou de Castelani e de Coimbra o poder de nomear e demitir funcionários. O pau quebrou. Estocadas de um lado e do outro.
Nessa segunda-feira, o embaixador Marcos Vilalva diz ter descoberto em um cartório, a partir de uma denúncia anônima, que o chanceler Ernesto Araújo sorrateiramente puxou o seu tapete.
—Realmente não compreendo esse tipo de postura por parte do ministro, esse tipo de atitude, que eu considero mais um golpe, de fazer na calada da noite uma modificação profunda no estatuto para me tirar poderes e dar poder para pessoas que não estão preparadas —acusou Vilalva em entrevista ao Estadão.
O embaixador Vilalva diz mais. Afirma que, em meio a essas nebulosas escaramuças internas, o chanceler Ernesto Araújo lhe ofereceu “postos maravilhosos no exterior” para que ele saísse da presidência da Apex. “Eu não estou à venda, não estou aqui para amanhã ser comprado”.
Tem uma encrenca aí. No começo da madrugada dessa segunda-feira, mesmo com Olavetes na briga, o guru Olavo de Carvalho fez questão de pular fora. “Jamais ouvi ou pronunciei o nome “Mário Vilalva” em qualquer conversação de que eu tenha participado. Já estou com saco cheio desses maconheirinhos da mídia fazerem de mim o Deus secreto das nomeações e demissões”, postou Olavo em seu Twitter.
Quem não pode deixar de descascar esse abacaxi é Jair Bolsonaro. É dele a caneta nas nomeações e demissões na Apex e no Itamaraty.
Mais que arbitrar de novo uma disputa entre militares e Olavetes, Bolsonaro pode se envolver num conflito em que nos bastidores os dois lados trocam acusações pesadas.
A conferir.