Na arena política, às vezes se confunde características parecidas com atributos bem diferentes. Nem sempre o raciocínio rápido, respostas na ponta da língua, ágeis ironias são predicados de um mesmo dom. A história e a crônica política são repletas de exemplos de talentos, digamos, inteligentes, ou apropriados. Registram, também, reações ligeiras que no mínimo são bola fora.
Logo no começo da entrevista a Renata Lo Prete, no Jornal da Globo, Ciro Gomes, para driblar uma pergunta sobre a segurança jurídica de anúncios como desfazer contratos na área de petróleo, acordo entre Embraer e Boeing, entre outros, respondeu de pronto: “Estamos sob um regime de golpe de estado”, a pretexto do impeachment de Dilma Rousseff.
Renata ponderou que foi um processo legal, aprovado pelo Senado, com supervisão do Supremo Tribunal Federal. Aí, Ciro simplesmente disse que foi igual em 1964, quando um golpe militar derrubou o governo João Goulart. Ciro que, a todo momento nessa campanha, diz falar com base em seus conhecimentos como professor de direito constitucional, dá ao golpe que instalou a ditadura militar de 64 um status legal parecido ao que prega a turma de Jair Bolsonaro.
Em toada semelhante, o PT diz que o Brasil vive num regime de exceção desde a destituição de Dilma e contesta a legalidade da condenação de Lula em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro. Nem o fato de o STJ e o STF, as duas maiores instâncias da Justiça, negarem provimento a essa contestação da legalidade mudou em nada o discurso dos lulistas. Para eles, prevaleceu o arbítrio.
Nessa mesma linha de colocar as leis brasileiras na berlinda, Jair Bolsonaro, em vídeo gravado no hospital, pôs em dúvida a lisura das urnas eletrônicas, deixando no ar que, se não for eleito, o processo eleitoral terá sido fraudado. Uma brecha, portanto, para questionar as eleições.
De uma maneira ou de outra, em pleno processo eleitoral, as três candidaturas que lideram a corrida presidencial estão pondo em dúvida os pilares da democracia no Brasil: 1) – Ciro diz que o Brasil vive sob um golpe de estado; 2) — Os petistas não reconhecem legalidade em decisões da Justiça no impeachment de Dilma e nem na prisão de Lula; 3) -Bolsonaro questiona a lisura do próprio processo eleitoral.
O pano de fundo é uma população que não confia nos políticos. Aonde vai dar isso?
A conferir.