Caso Coaf cala a artilharia dos Bolsonaro

Bolsonaro e três dos cinco filhos: Carlos, Flávio e e Eduardo

Jair Bolsonaro e seus filhos surpreenderam o país por jogarem sempre na ofensiva, adeptos da tática de que a melhor defesa é o ataque. Foi um sucesso nas urnas. Mantiveram a pegada mesmo depois de eleitos, quando todos apostavam em uma redução do ritmo. Bolsonaro pai até baixou a bola, mas os filhos Carlos e Eduardo seguiram na pilha. O primogênito Flávio, eleito senador, destoava dos irmãos por seus decibéis bem abaixo de seus estridentes irmãos.

Era assim que a banda familiar tocava na balbúrdia da transição até a quinta-feira (6) quando o Estadão revelou o relatório do Coaf sobre a movimentação “atípica com valores muito acima de seus rendimentos na conta bancária de Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro. De lá para cá, a cada revelação, a situação só se complicou enquanto o soldado “Queiroz”, como é conhecido pelos Bolsonaros, simplesmente não deu as caras. Silêncio absoluto.

Pela primeira vez, o clã Bolsonaro virou alvo de todo o mundo, inclusive de aliados, e não atacou para se defender. Pelo contrário. Carlos e Eduardo ignoraram o assunto. O pit bull Carlos, guerrilheiro nas redes sociais, não fez nenhuma referência ao caso em seu Twitter. Seus destaques na sexta-feira (14) foram o lançamento do submarino Riachuelo, onde acompanhou o pai, e a ironia às críticas de Fernando Collor às posições do futuro chanceler Ernesto Araújo: “Parabéns, ministro. Siga em frente!”.

Carlos Bolsonaro

No sábado, Carlos se mostrou incomodado com seu perfil na revista Época, que o retrata como o filho que mais influencia o pai, e se conteve até às 18 horas quando finalmente passou recibo pelo Twittter: “Afirmo tranquilamente que não sou o preferido e muito menos o principal influenciador de Jair Bolsonaro. Há uma clara tentativa de dividir, desinformar e desestabilizar, assim como fazem nas escolas com seus filhos. É tudo muito bem pensado!”.

Na mesma toada, prosseguiu Carlos: ” A sanha pelo poder jamais me influenciou, como é o objetivo de muitos, e essa barreira é intransponível! Apenas defendo o que acredito! Esta é uma grande diferença entre homens e `ratos`!”. Ele também não gostou de outra matéria da Época, a que conta a demissão do embaixador Paulo Uchôa Filho da chefia do Cerimonial do Itamaraty por ter discordado da infantil exigência do futuro chanceler Ernesto Araújo para não convidar Cuba e Venezuela para a posse de Jair Bolsonaro. Segundo a revista, o próprio Bolsonaro dera sinal verde para os convites.

Eduardo e o pai Jair Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro, padrinho político de Ernesto Araújo, também não gostou da reportagem da Época sobre o imbróglio no Cerimonial do Itamaraty.  Eduardo é uma espécie de chanceler informal. Nos últimos dias, enquanto a chapa esquentava para o irmão Flávio, todos seus tuítes foram sobre relações com outros países, com ênfase a sua visita ao Chile. Mas nesse sábado, por volta da meia-noite, endossou as críticas do irmão Carlos ao perfil traçado pela revista: ” Se você tiver filho pequeno você ler (sic) para ele dormir a história da Bela Adormecida, do Lobo Mau ou essa matéria aqui da Época/Globo”.

Apenas o presidente eleito e o filho Flávio, quando não têm como evitar, fazem  comentários sobre o caso, sem arriscar maiores ou menores explicações, sempre em tom defensivo. Nesse assunto, aderiram ao arrogância zero. O problema é que se limitam a correr atrás do prejuízo. Dizem que, se houver erro, estão dispostos a pagar. E nada se esclarece.

Na equipe de transição quem se dispõe a falar se apega à explicação de Jair Bolsonaro de que o dinheiro depositado na conta de Michelle, sua mulher, foi pagamento de um empréstimo a Queiroz, seu amigo desde os tempos de caserna. Não diz para que seria o empréstimo. Aqui e ali surgem versões de que poderia ser para a compra de um imóvel ou de um carro, que parecem plantadas para sondar como reage o distinto público. Ninguém se aventura a justificar o que quer que seja sobre o papel de Flávio nessa história.

É justamente aí que moram alguns problemas. Quem conhece um mínimo do que rola nos gabinetes das câmaras municipais, assembleias legislativas e Congresso Nacional já formou juízo: é a velha prática de cobrar um pedágio dos funcionários para aumentar os próprios rendimentos ou bancar atividades políticas. É corriqueiro, mas é crime, pode ser tipificado como peculato, e é o suficiente para sanções por qualquer conselho de ética parlamentar que atue com um mínimo de seriedade.

Os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro. Foto

Outra questão que não quer calar. Um dia depois da divulgação do relatório do Coaf, Flávio Bolsonaro se encontrou com Fabrício Queiroz, que lhe teria dado uma explicação “plausível” sobre a grana movimentada em sua conta bancária (no vai e vem dos registros, que contabilizam o entra e sai, o valor real seria de R$ 600 mil). Se houve de fato uma versão “plausível”, ficam esquisitas as falas dos dois Bolsonaros quando dizem desconhecer a justificativa de Fabrício Queiroz.

O que se diz no entorno do clã Bolsonaro é que nos próximos dias Fabrício Queiroz finalmente vai apresentar uma explicação para a movimentação atípica em sua conta bancária. Até lá a família, mesmo fugindo do assunto, continua na berlinda.

 

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