Um mantra pétreo no que é vedado a deputados e senadores: não podem legislar em causa própria. Parece piada, mas é a regra que deveriam cumprir. Não só a desrespeitam, como a afrontam. Tudo em nome de terceiros. Depois que operações como a Lava Jato universalizaram a aplicação da lei, quem se considerava intocável se incomoda.
Não bastasse o roteiro gravado pelo delator e ex-parceiro Sérgio Machado, com tramas para barrar a Lava Jato, caciques do PMDB continuam querendo mudar as regras do jogo. O senador Renan Calheiros, por exemplo, ressuscitou um projeto sobre punição ao abuso de autoridade. Seria uma bela notícia se voltado para o endereço certo, o desrespeito com que servidores públicos costumam tratar os cidadãos. Em especial, os mais necessitados.
Mas o alvo são todos os encarregados de cumprir a lei, dos delegados e promotores aos ministros dos tribunais superiores. Não adianta fingir, não se trata de algo bom para a cidadania em geral, é um mero instrumento de pressão contra encarregados de aplicar a lei.
Quem vai comandar o exame dessa proposta é o senador Romero Jucá, flagrado em gravação pregando estancar a sangria da Operação Lava Jato e alvo de inúmeras denúncias de corrupção.
Qual a diferença do que ocorre no Senado do que aconteceu na gestão de Eduardo Cunha na Câmara, suficiente para o Supremo Tribunal Federal afastá-lo do mandato e da presidência? Na Câmara, Cunha agiu claramente em causa própria. No Senado, Renan e Jucá agem claramente em defesa…
Com operações policiais como a dessa sexta-feira (1), com alvos ligados a Cunha e a Renan, o cerco vai se fechando em torno dos caciques do PMDB. Eles não sabem como escapar. O desespero costuma ser mau conselheiro.