Em sua live nas redes sociais nessa quinta-feira (10), Jair Bolsonaro deu mais um tiro no próprio pé. Passou recibo a todas as pesquisas eleitorais que mostram o derretimento contínuo de sua candidatura à reeleição. Mais uma vez ultrapassou o limite das instituições para contestar o processo eleitoral. Disse que as Forças Armadas identificaram “dezenas de vulnerabilidades” no sistema eleitoral e novamente questionou a lisura das eleições no Brasil, uma das mais confiáveis e seguras mundo afora.
Mais do que em suas habituais fake news, dessa vez ele simplesmente pôs o Exército literalmente na roda. “Nosso pessoal do Exército, da guerra cibernética, buscou o TSE e começou a levantar possíveis vulnerabilidades. Foram levantadas várias, dezenas de vulnerabilidades. Foi oficiado o TSE para que pudesse responder às Forças Armadas. Passou o prazo e ficou um silêncio. O prazo de 30 dias se esgotou no dia de hoje. Isso está nas mãos do ministro Braga Netto (Defesa) para tratar desse assunto. E ele está tratando disso e vai entrar em contato com o presidente do TSE. E as Forças Armadas vão analisar e dar uma resposta”.
O absurdo começa nas premissas. Quem deu poderes para o Exército supostamente dar um ultimato à Justiça Eleitoral? Quem delegou poder às Forças Armadas para decidir qual o melhor sistema eleitoral? Certamente não foi a Constituição. Tem boi na linha. Pior: tem gente que cometeu crimes e teme ter de pagar por eles sem a proteção do vergonhoso foro privilegiado.
É justamente o caso de Jair Bolsonaro e de seu clã que tentam se beneficiar de mandatos eletivos que asseguram o tal foro para privilegiados, e do beneplácito com os poderosos dos tribunais superiores em Brasília, para escaparem da penca de punições de que são acusados, como as famosas rachadinhas. Com medo de que a casa caia, em caso de uma provável derrota, eles simplesmente querem melar as eleições em causa própria. Medo de cadeia.
A maior bandeira de Bolsonaro nessa live nas redes sociais foi quando ele manifestou o temor de ser derrotado pelo ex-presidente Lula no primeiro turno, ao afirmar que a eleição tem de ser resolvida ‘em dois turnos”, porque “não pode terminar e ter dúvidas”.
É o medíocre joguinho de sempre. Bolsonaro já atacou, depois recuou, inúmeras vezes às urnas eletrônicas. Faz assim também com as vacinas contra a pandemia da Covid-19. Sua maior aposta para conseguir chegar ao segundo turno da eleição presidencial são suas milícias digitais com pregações negacionistas. Por mais que se excedam nesse sistemático ataque à ciência e à democracia, de algum forma, mesmo torta, fazem parte do jogo. Cabe à justiça mantê-las sob controle.
O que sai das tais quatro linhas da Constituição tão citadas por Bolsonaro, e é inaceitável, é tentar usar o Exército como instrumento de pressão no jogo eleitoral, inclusive escalando o ministro da Defesa, Braga Netto, para esse papel ridículo. Além de ineficaz, é contraproducente. Se o objetivo é mobilizar bases radicais, que estão meio desanimadas, as ameaças reforçam as barreiras de defesa da sociedade e das instituições democráticas. Zero chance de reversão da opção da maioria dos eleitores.
A conferir.