O escândalo do Mensalão, em 2005, despencou a popularidade do então presidente Lula que parecia destinado a um impeachment ou a cumprir tabela até o final de seu mandato. Seus principais adversários, os tucanos avaliaram que a opção menos traumática seria deixar Lula “sangrando”, pois o consideravam carta fora do baralho. Manteria apenas o nicho petista sem força eleitoral para tentar a reeleição. Erraram feio. Na esteira do Bolsa Família e de outros programas sociais bem sucedidos, Lula não apenas recuperou o apoio popular como as denúncias de corrupção contra o PT e seu governo deixaram de grudar nele, o famoso “efeito teflon”.
Mesmo após ser investigado, processado e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro com base nas apurações da Operação Lava Jato, Lula seguiu praticamente imbatível no Nordeste, e manteve a imagem de “pai dos pobres”. Parecia um reduto impenetrável para Jair Bolsonaro. Ainda mais com o estrago causado por sua desastrada gestão da pandemia do novo coronavírus. Mas o auxílio emergencial de R$ 600,00, concedido a cerca de 65 milhões de pessoas, boa parte sempre ignorada nos programas de assistência social, deu um cavalo de pau na aceitação de Bolsonaro no Nordeste e no andar de baixo da sociedade.
A nova pesquisa do IBOPE captou isso em números. Entre os mais pobres, a aprovação ao governo Bolsonaro pulou de 19% para 35%, o salto entre os que estudaram apenas até a oitava série foi de 25% para 44%, e no Nordeste apoio e rejeição praticamente empataram. Ao conseguir agradar a essa enorme parcela da população, Bolsonaro passou a circular à vontade num eleitorado tido antes como cativo de Lula. São os que, mesmo diante de uma avalanche de denúncias de corrupção contra o PT, não seguiram a debandada da classe média e da opinião pública nas grandes cidades e sustentaram a popularidade do ex-presidente. Era a turma do efeito teflon.
São eles, agora, que compensam nas pesquisas as reprovações ao governo com o aumento do desemprego, o descaso com a pandemia, o desleixo com as queimadas no Pantanal e na Amazônia, a inexplicável carteira de imóveis adquiridos com dinheiro vivo pelo clã Bolsonaro…
Isso significa também boa vontade de políticos antes refratários. O auxílio emergencial em um valor menor (R$ 300, 00) foi prorrogado até o final do ano. O que, na perspectiva dos políticos governistas, torna o presidente um excelente cabo eleitoral nas eleições municipais. Ele vinha dizendo que não participaria da campanha. Mas nessa quinta-feira à noite, em sua transmissão semanal pelo Facebook, ele já admitiu rever essa posição e apoiar candidatos em algumas cidades. Citou São Paulo, Santos e Manaus. Seu maior interesse é em São Paulo.
A pesquisa do Datafolha sobre a largada da campanha com o deputado bolsonarista Celso Russomanno (Republicanos) na liderança com 29 por cento das intenções de voto, nove a mais que o prefeito tucano Bruno Covas, mostra que a eleição paulistana pode ser uma prévia da sucessão presidencial em 2022. O governador João Doria e Bolsonaro vão medir forças em São Paulo. A liderança de Russomanno estimula mas não dá segurança para o presidente: ele sempre larga na frente, mas perde fôlego na reta final. O desafio de Bolsonaro será transformar um político com fama de cavalo paraguaio em pule de dez.
Mas essa é apenas uma etapa. Bolsonaro está encantado com sua nova onda de popularidade e quer continuar surfando em uma espécie de bolsa família vitaminado e com um novo nome até a eleição presidencial em 2022. Sabe que se suspender a ajuda perde popularidade e o tal efeito teflon. O problema é de caixa — o governo sai quebrado dessa pandemia — e o risco é de uma pane no controle das contas públicas. Como sempre, o que se trama na equipe econômica é transferir o custo para os contribuintes com um novo imposto. O que também gera desgaste.
A conferir.