Faz tempo que, estimulados por políticos e empresários aliados, advogados ligados a Jair Bolsonaro buscam atalhos para legalizar e ampliar a exploração de minérios, madeiras e outras riquezas em terras indígenas. A boiada conduzida pelo ex-ministro Ricardo Salles, sob orientação do presidente da República, só não passou inteira por causa da reação interna e da forte pressão internacional.
Por causa da força desses dois movimentos, entre outros recuos, caíram Ricardo Salles e o bizarro chanceler Ernesto Araújo. Mas isso só adiou a política de terra arrasada dos que cobiçam as riquezas nas áreas indígenas. Bolsonaro e seus parceiros só esperavam um pretexto para uma nova investida – acreditam que o encontraram na invasão determinada por Vladimir Putin à Ucrânia.
Desde a semana passada, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, articula para colocar na pauta o projeto que abre a porteira para a mineração em terras indígenas. A intenção é votar a toque de caixa nessa quarta-feira (9). Bolsonaro, Ricardo Barros e sua turma alegam que isso vai acabar com a dependência do Brasil da importação de fertilizantes agrícolas. “Com essa crise internacional, dada a guerra, o Congresso sinalizou em votar esse projeto em regime de urgência. Eu espero que seja aprovado na Câmara agora em março para que, daqui a dois ou três anos, possamos dizer que não somos mais dependentes de importação de potássio para o nosso agronegócio”.
Verdade que o Brasil, uma potência agrícola, tem uma dependência inexplicável desses fertilizantes. As fábricas que a Petrobras estava construindo para mudar esse cenário, nos governos Michel Temer e Bolsonaro viraram pó. Há um mês, Bolsonaro comemorou a venda da fábrica de fertilizantes nitrogenados em Três Lagoas para o grupo russo Acron, que em vez de produzir queria apenas misturar o produto importado da Rússia, como alertou a senadora Simone Tebet.
Bolsonaro alardeou que o Brasil finalmente se livrou de um mico petista que custou R$ 3,8 bilhões. Isso antes de ir para Rússia e comemorar com o ‘amigo” Putin. Lula deu o troco. Alegou que se não tivessem mudado o programa da Petrobras de construção de fabricas de fertilizantes, além de em Mato Grosso do Sul, na Bahia, Sergipe e Paraná, o Brasil não estaria nesse sufoco.
Com a guerra e a sucessão de sanções recíprocas, tudo ficou no ar. Menos para o tonto Bolsonaro que, nessa terça-feira (8), se vangloriou num encontro com evangélicos no Palácio da Alvorada da proeza de ter conversado a sós por cerca de três horas com Putin, em que pagou um mico mundial.
Mas o suficiente para seus aliados que há tempos cobiçam as riquezas da Amazônia enxergarem nas possíveis consequências da guerra oportunidade de negócios. Daí a ressureição do projeto para explorar as terras indígenas. No texto apresentado pelo governo em 2020 há previsão de que os povos indígenas devem ser ouvidos durante a discussão, mas permite estudos técnicos mesmo que as comunidades indígenas discordem dos projetos.
A proposta também dá ao presidente da República o poder de apresentar projetos de mineração ao Congresso, mesmo com manifestação contrária das comunidades afetadas. O projeto diz, ainda, que a mineração pode começar em caráter provisório mesmo antes da autorização final dos parlamentares.
O que essa tropa bolsonarista quer nas terras indígenas não é matéria prima para fertilizantes. É ouro, diamante, outros minérios valiosos, madeira, novas terras para pecuária e agricultura. Querem passar um trator na Amazônia. E faturar o butim.
A conferir.