Na montagem da equipe ministerial, o maior quiprocó foi na escolha do ministro da Educação. Depois de queda em série de postulantes, alvos de vetos, sobrou para o professor colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, cujo maior trunfo foi o apoio de Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro. Deu ruim. Sua demissão virou uma das raras unanimidades nacionais.
Nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro deve bater o martelo na intensa disputa nos bastidores pela cobiçada vaga de Vélez, uma pasta estratégica para o desenvolvimento nacional, com orçamento para este ano de R$ 122 bilhões. O grupo militar e os olavistas estão em guerra aberta. Políticos ligados ao Centrão e aos evangélicos chegam com força nessa reta final.
O candidato dos olavistas é Eduardo Miranda de Melo, hoje na Associação Roquete Pinto, que controla a TV Escola. Mesmo contando com o apoio da família Bolsonaro, nesse domingo (7) Olavo de Carvalho pareceu meio desanimado em seus tuítes. Um deles foi retuitado por Carlos Bolsonaro, o belicoso 02: “Quando eu disse que uma vitória eleitoral antes de completada a restauração cultural era uma ejaculação precoce, só errei por excesso de otimismo. Era, na verdade, um suicídio”.
Após retuitar, Carlos Bolsonaro comentou em seu Twitter: “Professor, o brasileiro está atento e sabe filtrar e tirar de bom qualquer mensagem que venha do senhor e que tentam a todo custo desmerece-la! Somos gratos e sempre atentos às suas palavras desde muito antes de eleições! Um forte abraço!”. Pode ser lida como uma manifestação de apoio ou uma despedida.
Para os olavistas, o comando do Ministério da Educação é vital para a “guerra cultural” que travam contra um tal globalismo que estaria a serviço da ideologia marxista. Na ótica de Olavo de Carvalho, os militares que estão no governo não tiveram coragem de comprar essa briga e se bandearam para o campo do inimigo. Os generais palacianos consideram essas avaliações puro delírio e pressionam o presidente Jair Bolsonaro, apesar da preferência de seus filhos, a afastar essa turma do governo. A começar pela Educação.
A nomeação do brigadeiro Ricardo Machado Vieira para a secretaria-executiva do MEC foi um primeiro passo para por ordem na casa. Os militares têm algumas opções para o lugar de Vélez Rodriguez, o preferido é o professor Carlos Alberto Decotelli, que hoje preside o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Mas não se opõem a outros nomes desde que não vinculados ao grupo de Olavo de Carvalho.
E é nessa abertura que os políticos viram uma oportunidade para assumirem o comando de um ministério do tamanho e a importância da Educação, com braços em todos os estados e municípios brasileiros. Desde antes da montagem da equipe ministerial, o ex-ministro Mendonça de Barros é sempre um nome citado. Além de significar continuidade do que se fez na Educação no governo Michel Temer, o fato de que seria o quarto ministro do DEM praticamente o inviabiliza. Quem chegou a estar na pole position na semana passada foi o senador tucano Izalci Lucas, que tem apoio entre os evangélicos. Sua filiação ao PSDB e a entrada no páreo do deputado João Roma Neto (PRB-BA), com o apoio do Centrão e do bispo Edir Macedo, e as bençãos de Rodrigo Maia e do ministro Onyx Lorenzoni, reduziram suas chances. Outros políticos correm por fora. Um deles é o senador Esperidião Amin, do PP.
A mexida na Educação e as mudanças previstas na diretoria da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento, onde olavistas e indicados por militares travam uma guerra aberta, podem ser o começo de uma guinada no governo. Se depender dos generais palacianos, também haverá trocas no Itamaraty e no Ministério do Meio Ambiente.
A conferir.