O plano golpista combinado em Brasília com o presidente Bolsonaro e alguns ministros em uma reunião em que participaram o cantor Sérgio Reis, o falastrão e foragido caminhoneiro Zé do Trovão e o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja, Antonio Galvan, segue em curso. Algumas ameaças foram tiro n`água. Foi o caso do fantasma de quebra quebra nas manifestações infiltradas por policiais de todos os naipes e militares da reserva que não se materializou nos atos antidemocráticos do 7 de Setembro. Mas a previsão, verbalizada por Sérgio Reis, de que caminhoneiros tentariam paralisar as rodovias em todo o país mostrou sua cara nessa quarta-feira (8) em pelo menos 16 estados e tentativas fracassadas de invasão da sede do Supremo Tribunal Federal na capital federal.
No delirante script dos golpistas, o papel dos caminhoneiros seria fechar o caixão da democracia depois dos estragos no 7 de Setembro. Não houve motins de policiais, as Forças Armadas não se envolveram, mesmo acompanhando de perto a evolução dos acontecimentos, e o golpismo de limitou a slogans e aos discursos alucinantes de Bolsonaro. O movimento isolado de caminhoneiros, alimentado e bancado por setores atrasados do agronegócio, com o apoio da turma que fatura com a boiada liberada pelo governo Bolsonaro para a grilagem de terras na Amazônia, mineração e desmatamento ilegais, inclusive em reservas indígenas, virou um traque.
O país, espantado com a ousadia dos golpistas, não entrou em ebulição. Com maior ou menor ênfase, todos os atores institucionais puxaram a orelha de Bolsonaro. O presidente do STF, Luiz Fux, em nome de todos os ministros do tribunal, deu uma exemplar enquadrada, com destaque para o aviso que se passar do blefe golpista para ação vai ser enquadrado por crime de responsabilidade. Os caminhoneiros usados como massa de manobra pagaram micos nas estradas. Evidente que causaram transtornos, em alguns estados como Santa Catarina, onde o movimento foi mais forte, provocaram corrida aos postos de gasolina. Na prática, mais um tiro no pé de Bolsonaro.
À noite, num áudio meio fajuto, Bolsonaro agradeceu o apoio deles e pediu que suspendessem os bloqueios para não “prejudicar a economia”. É o mesmo jogo malandro de morde e assopra de sempre. Pela manhã, numa reunião fechada com ministros, Bolsonaro ainda arrotava a arrogância dos palanques na véspera. Chegou a pedir sugestão para orientar a Polícia Federal, que pela Constituição também tem a função de polícia judiciária, a não cumprir as ordens do ministro Alexandre de Moraes. Puro delírio. Mas, como sempre, ataca em público e com seus subordinados e tenta se desculpar com os ofendidos no privado. Comportamento covarde.
Como o clima no STF ficou pesado — e o governo depende de decisões do tribunal para escapar das próprias armadilhas e sustentar seus dribles nas leis como no caso do pagamento de precatórios — enviou o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para tentarem aliviar a barra no tribunal. A intenção era uma conversa com o próprio Fux, mas se contentaram em serem recebidos pelo decano Gilmar Mendes. Como não tinham nada a oferecer, porque não têm o menor controle sobre os espasmos de Bolsonaro, teriam voltado com as mãos abanando.
Os ministros do Supremo cansaram de apanhar em público e ouvirem pedidos de conciliação em particular. Tudo tem limite. Nos delírios golpistas com seus áulicos, Bolsonaro optou por desprezar todos os conselhos de políticos experientes, como os ex-presidentes José Sarney e Michel Temer, e partir para a briga de rua. Ele pulou sem rede de segurança. Por mais que estique a corda, ele está cada vez mais isolado. Já vinha com a popularidade derretendo. Não conseguiu atrair as Forças Armadas e as polícias militares para suas aventuras golpistas. Perdeu o apoio do establishment industrial e financeiro, virou um peso para os setores modernos e exportadores do agronegócio, os partidos que ostensivamente ou na moita lhe dão sustentação política começam a avaliar o abandono desse barco à deriva.
O custo econômico e social dessa birutice cresce a cada dia. A perda das empresas na Bolsa de Valores nessa quarta-feira foi de quase 200 bilhões de reais. Menos mal que a Bolsa sobe e desce no ritmo das expectativas e especulações. Mas o dólar também subiu muito e agrava dificuldades reais na vida dos brasileiros, como os preços dos alimentos, do botijão de gás, dos combustíveis, da conta da luz, dos transportes e uma infinidade de coisas que parecem não preocupar o bolsonarismo. Isso num contexto de agravamento da miséria, da fome e com quase 15 milhões de desempregados. Eles vivem numa bolha à parte. Mas essa conta vai chegar. Pode, como deveria, nem ser agora. Mas com certeza nas urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
A conferir.