O relógio do plenário da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara marcava 16h29m. O clima estava pesado entre deputados governistas e oposicionistas, apoiados por dezenas de representantes de corporações contrários a aprovação da reforma da Previdência.
Osmar Serraglio (PMDB), no comando da reunião, tentava levar o barco. Naquele exato momento, o colega Esperidião Amin (PP) cochichou algo em seu ouvido: “Achei que você tivesse nos chamado para votar a PEC da Presidência, e não a PEC da Previdência”. Serraglio sorriu.
Miro Teixeira, que estava por perto, também riu. Era mais um lance do jogo de pressões sobre Serraglio, que se intensificou no final de semana. É que ele, na condição de presidente da Comissão de Justiça, sentou em cima e não vota a emenda constitucional, proposta por Miro Teixeira, que acaba com eleição indireta para a Presidência da República, caso o cargo fique vago.
Pelas regras de hoje, se, por qualquer razão, Temer sair da presidência depois da virada do ano, seu sucessor seria escolhido pelo Congresso. Pelo projeto de Miro, passaria a ser sempre pela vontade popular.
No domingo, Esperidião Amin, que em junho deu parecer favorável à proposta de Miro, telefonou para Serraglio e, mais uma vez, pediu para pôr seu parecer em pauta. Serraglio respondeu que estava agindo assim a pedido do ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil.
O Palácio do Planalto sempre foi contra a votação dessa emenda. Depois da bombástica delação premiada da Odebrecht, a resistência palaciana aumentou.
Miro e Esperidião, no entanto, fazem marcação cerrada sobre Serraglio, e esperam uma mãozinha das redes sociais e das ruas.