Meses atrás, Magno Malta recusou o convite para ser vice de Jair Bolsonaro. Não quis trocar uma reeleição segura para o Senado pelo risco de uma corrida presidencial. Apuradas as urnas, a surpresa: favorito em todas as pesquisas, ele foi derrotado por dois candidatos tidos como azarões. Pior: em plena campanha eleitoral, foi acusado pelo Ministério Público de envolvimento em uma história escabrosa que ajudou a colocá-lo na berlinda durante o processo de formação da nova equipe ministerial.
Mesmo assim, ele não desistiu. Não se conformou com as respostas evasivas a suas cobranças incisivas. Sua insistência começou a incomodar. Tomou um chega pra lá do general Hamilton Mourão que o comparou a um elefante na sala, a um camelo com necessidade de deserto. Ainda passou recibo: deu entrevista dizendo que seria ministro e mobilizou apoiadores famosos – o apresentador de tevê Ratinho, o pastor Silas Malafaia, e o deputado eleito Alexandre Frota, entre outros – para cobranças públicas a Bolsonaro para sua indicação como ministro da Cidadania.
Como se esperava, não deu certo. O que barrou Magno Malta foi o receio de militares da equipe de transição, compartilhado também por civis, de que a exposição de polêmicos episódios ao longo de sua carreira política poderia gerar desgastes para o novo governo. Eles têm informações das áreas de inteligência e de segurança. Até uma simples busca no Google mostra o telhado de vidro do senador.
O próprio Magno Malta, diante das resistências a seu ingresso no primeiro escalão do governo Bolsonaro, adotou como Plano B emplacar um ministro que pudesse chamar de seu. Na quarta-feira (27), quando a bancada evangélica reagiu mal à notícia de que o educador Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, seria o futuro ministro da Educação, o senador viu ali uma oportunidade. Ele foi o principal padrinho político da indicação do procurador regional da República Guilherme Schelb para a Educação. Há um ano e meio, Schelb, requisitado por Magno Malta, tornou-se seu assessor na CPI sobre Maus Tratos a Crianças e Adolescentes, inclusive participando de diligências.
Desde o final dos anos 90, quando ainda era deputado federal, Magno Malta surfou em espalhafatosos interrogatórios e diligências nas CPIs que comandou na Câmara e no Senado. A penúltima delas, a CPI da Pedofilia, é o motivo de sua atual dor de cabeça. Em outubro, o procurador da República Alexandre Senra acusou Magno de cumplicidade num caso escabroso: o cobrador de ônibus capixaba Luiz Alves de Lima foi denunciado, preso e torturado, com graves sequelas, por supostamente ter abusado sexualmente de uma filha de dois anos. Perícias médicas comprovaram que a acusação contra o cobrador era falsa, ele foi inocentado e os que o denunciaram, prenderam e torturaram passaram a ser investigados. O Ministério Público propôs a punição de todos os envolvidos. O inquérito contra Magno Malta, que ainda tem foro privilegiado, já está nas mãos da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Os autos estão sob sigilo.
Mal entrou no páreo, a indicação de Guilherme Schelb subiu no telhado. Circulou entre integrantes da equipe de transição a denúncia feita pela revista Época, em agosto de 2004, com base em e-mails e outros documentos, de que Schelb estaria propondo negócios a empresas interessadas em suas investigações. Uma comissão de Sindicância do Ministério Público, da qual fez parte a procuradora Raquel Dodge, considerou a denúncia consistente e recomendou a abertura de um inquérito, cuja conclusão foi a proposta da abertura de um Processo Disciplinar Administrativo, que acabou trancado por uma decisão judicial.
Horas depois de Guilherme Schelb ter conversado com Bolsonaro, o presidente eleito anunciou pelo Twitter que o ministro da Educação seria o professor Ricardo Vélez Rodrigues, indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho, com o apoio de todo o clã Bolsonaro.
Na quarta-feira (28), ao anunciar a escolha do deputado Osmar Terra (MDB) para o Ministério da Cidadania, Magno Malta foi oficialmente descartado. Mas nesse mesmo dia, de acordo com líderes da bancada evangélica ouvidos pelo O Globo, Bolsonaro teria convidado a advogada e pastora Damares Alves para ser ministra dos Direitos Humanos e Mulheres. Damares é assessora de Magno Malta no Senado.
Damares Alves é fervorosa militante de causas evangélicas contra o aborto e as reivindicações do movimento LGTB e, como Guilherme Schelb, assessorou Magno Malta na CPI sobre Maus Tratos. Se confirmada como ministra será uma compensação ao senador capixaba por ele não ter sido escalado no time principal. Na equipe de transição ainda se aposta que Magno Malta será contemplado com um cargo no segundo escalão, sem a visibilidade e o foro privilegiado de um ministério.
A conferir.