Paulo Guedes chegou à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara escoltado por Rodrigo Maia como uma garantia de que ali seria bem tratado. Mas, na conturbada audiência sobre a reforma da Previdência, a suposta rede de proteção ao ministro ficou a cargo do líderes major Vitor Hugo e do delegado Valdir, uma dupla sem o menor traquejo para aquele jogo, e Paulo Guedes teve de enfrentar praticamente sozinho os embates com as esquerdas. Quem ganhou foi a turma que, mesmo em tese favorável às propostas do ministro, preferiu assistir aos bate-boca de camarote.
Ao cruzarem os braços, o Centrão e assemelhados valorizaram seus passes para a disputa que realmente lhes interessa: a queda de braço com o Palácio do Planalto para assegurarem alguma influência no governo e nos estados.
Desde a semana passada, quando aprovaram a toque de caixa, uma emenda constitucional que engessa ainda mais o Orçamento da União, os líderes do Centrão e de outros partidos já deixaram claro que não será barato o apoio a iniciativas do governo Jair Bolsonaro. Ontem, o Senado, com a mesma velocidade, também aprovou a emenda, com pequenas mudanças.
Isso tudo faz parte do pano de fundo das conversas que Bolsonaro começa a ter nessa quinta-feira com os presidentes de partidos, que esperam propostas atraentes para compor a base governista. De acordo com o Ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, estão previstas nessa primeira rodada conversas com os presidentes do PRB, pastor Marcos Pereira; do PSD, Gilberto Kassa; do PSDB, Geraldo Alckmin; do PP, Ciro Nogueira; do DEM, ACM Neto; e do MDB, Romero Jucá.
Jair Bolsonaro tem repetido desde a campanha eleitoral que não vai aderir ao tradicional toma lá, dá cá para obter apoio político. Ele montou seu ministério à revelia dos partidos. Mas, agora, há sinais do Palácio do Planalto de que, em escalões inferiores, e até em mudanças ministeriais como a prevista para a Educação, os critérios podem ser alterados. É isso que a equipe de Onyx Lorenzoni vem dizendo nas conversas com parlamentares.
Os interlocutores até agora ouviam céticos. Diziam que a palavra final era do general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria do Governo, que teria sido escalado por Bolsonaro justamente para barrar apadrinhados políticos. Santos Cruz, no entanto, em entrevista a Folha de S.Paulo, disse que não é bem assim: ” O pessoal está interpretando de maneira problemática. A indicação política é normal em qualquer lugar do mundo. O problema é quando você indica pessoas que não têm capacidade administrativa e técnica para a função”.
Nessa quarta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo pode oferecer aos partidos políticos cargo em órgãos federais no estados e nos ministérios para fortalecer a base aliada no Congresso. Ressalvou, porém, que a decisão cabe a Bolsonaro.
A conferir.