É vendida pelo valor de face a avaliação de que, sem os tucanos, o governo Michel Temer desaba de vez. Por essa ótica, seria aberta a porteira para uma debandada de outras forças políticas, influenciando também a retirada de apoio de grupos empresariais ainda peças importantes na sustentação do governo.
Não é bem assim.
Por mais que a saída do PSDB possa abalar a já frágil gestão Temer, ela ainda não é decisiva para a derrubada do governo. Nem as forças econômicas, mesmo com a redução das expectativas em relação a agenda de reformas, estão convencidas de que possam conseguir uma alternativa menos ruim.
Esse pano de fundo aumenta a confusão no ninho tucano. O partido não sabe se vai ou se fica.
E é nesse vai e vem que o PSDB marcou uma pajelança para a segunda-feira (12), Dia dos Namorados, em que pretende pôr fim ao casamento com o PMDB de Michel Temer. A ideia dos tucanos é de um rompimento amigável. Seria mantido o dote comum das reformas econômicas e, talvez, a permanência de um ou outro ministro que ficaria no governo como uma missão pessoal e institucional.
Uma saída tipo a do PPS, em que Roberto Freire pulou fora do Ministério da Cultura, mas Raul Jungmann continuou no Ministério da Defesa.
Enquanto os tucanos transformam em drama as incertezas de sempre, outros grupos da base governista disputam o seu espólio. O quinhão mais cobiçado é o Ministério das Cidades, uma poderosa máquina eleitoral, hoje comandada pelo tucano Bruno Araújo. O PP do ex-ministro Aguinaldo Ribeiro já está no páreo. Se dispõe inclusive a abrir mão do Ministério da Agricultura.
O DEM, velho parceiro dos tucanos na alegria e na tristeza, costura uma aliança com o PMDB e o Centrão para manter uma forte base parlamentar. Ela pode servir para rejeitar um pedido de investigação contra Temer ou, caso ele caia, para sustentar uma eventual gestão de Rodrigo Maia.
Os parceiros de base governista consideram meio esquizofrênica a angústia dos parlamentares tucanos pela convivência com um bichado governo Temer. “Eles se comportam como se o Aécio Neves não estivesse no mesmo pântano”, espanta-se um cacique do DEM.
Essa asa quebrada de Aécio de fato atrapalha o voo tucano para fora do ninho de Temer.
Desde que entraram na cena política, os tucanos reivindicaram o papel de protagonistas na história do país. Muitas vezes com sucesso. Mas também entraram para o folclore político pela dificuldade de decisão em momentos cruciais.
O maior problema deles agora, a exemplo do maior rival PT, é como encarar o espelho.
Depois do tsunami das delações, gravações, detalhes sórdidos em profusão, os tucanos têm como abandonar aliados por questões éticas sem antes fazer uma limpeza da própria sujeira?
A conferir.