Moreira Franco está em lua de mel consigo mesmo. Depois dos louros pela paternidade da intervenção na segurança do Rio, ele está se sentindo, com alguma razão, o dono do pedaço no Palácio do Planalto.
É nessa balada que tenta expandir seu poder governo afora. Tem interesse especial onde já pôs a mão na massa e sabe o potencial de rendimento.
No segundo governo Lula, Moreira foi vice-presidente de fundos de governo e loterias da Caixa Econômica Federal, responsável, entre outras coisas, pela gerência dos bilionários recursos do FGTS.
Por meterem a mão nessa cumbuca, dois ex-presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, pagam na cadeia parte dos crimes que lhe são atribuídos.
Pelo que dizem os investigadores, Moreira Franco só continua livre, leve e solto por ter escapado do bote da Justiça ao ser nomeado ministro por Michel Temer. Assim, ele se beneficia do alvará provisório do foro privilegiado.
Depois de Temer, Moreira é hoje o mais poderoso inquilino do Planalto, onde até centímetros de metro quadrado valem ouro. Mesmo assim nem sempre consegue tudo o que quer.
Como outros poderosos em várias gestões, Moreira Franco está tropeçando, justamente na Caixa em que esperava continuar nadando de braçada, pela aplicação de critérios técnicos por servidores que se recusam a obedecer apenas a controversas jogadas políticas.
Em janeiro, a saia justa de uma ampla investigação causou a demissão dos vice-presidentes da CEF Roberto Derziê e Deusdina dos Reis Pereira, dois queridinhos da turma que orbita em torno de Moreira Franco.
Como estavam nas cordas, sem capacidade de reação, Temer e Moreira Franco tiveram que aceitar a exigência da economista Ana Paula Vescovi, secretária do Tesouro Nacional, que assumiu a presidência do Conselho de Administração da CEF, para se livrar de vices encrencados.
Ana Paula tem um currículo impecável. E é muito dura no jogo. Aceitou a nova tarefa com a expectativa de acabar com a rotina de assaltos por gente indicada pelo PMDB e, também pelo PT e outros partidos, ali praticava, sem a menor cerimônia.
Ela mexeu num vespeiro. Não há lobista, prefeito, deputado, senador, governador e ministro que ignore o peso eleitoral da Caixa Econômica, em seus vários braços, talvez a mais eficiente máquina federal de votos.
Mas o mundo gira, a lusitana roda. A turma no Planalto, antes mesmo de a intervenção no Rio mostrar algum resultado, se sente vitoriosa a ponto de arregimentar forças para uma eventual campanha de Temer à reeleição.
Nesse jogo, claro, a CEF virou alvo prioritário. Querem indicar apadrinhados para cargos com poder de gerar votos. A ofensiva é para derrubar quem parecer ou for obstáculo.
Aí vale tudo. Pela nova teoria da conspiração palaciana, Gilberto Occhi, presidente da Caixa, aposta do PP para cargos em todos os governos, seria na realidade um aliado oculto do PT. Nessa condição, Occhi estaria se unindo a Ana Paula Vescovi para indicar quadros petistas para funções na Caixa em funções que teriam poder para sabotar o governo Temer.
Parece mais um samba do crioulo doido. Pela disposição e poder da turma que o leva para a ampla avenida da Esplanada dos Ministérios, vale conferir.