Como no teatro, o desempenho dos atores faz a diferença nas encenações políticas. Sejam elas trágicas, cômicas ou simplesmente farsescas.
Em tempos recentes, quem costuma assistir às sessões do Senado, em especial as mais relevantes, se habituou a acompanhar a atuação de alguns senadores, sempre marcantes.
Nesses momentos, impõem-se as estrelas do pedaço.
Na votação em que se jogou uma tábua para salvar Aécio Neves e a si próprios, afora caciques bem queimados, recordistas em inquéritos, o andar de cima do Senado se preservou.
Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, como era previsível, puseram a cara a tapa.
Por se tratar de Aécio, alguns tucanos, como Tasso Jereissati e Cássio Cunha Lima, de maneira bem discreta, ajudaram. Atuaram mais nos bastidores do que na ribalta.
Outros gatos pingados entraram em cena.
Até senadores do baixo clero, como Hélio José e Telmário Motta, tiveram seu dia de estrelas. Puderam falar à vontade, da tribuna e do microfone de plenário, em defesa de Aécio.
Como tal eloquência também chamou atenção o silêncio de alguns atores em plenário.
O sempre falante Lindbergh Farias, líder do PT, entrou em silêncio e saiu calado. Nem encaminhou a posição do partido.
Embora essa votação tenha sido marcada com antecedência, outras vozes estridentes da oposição sequer apareceram. As senadoras Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Vanessa Graziottin (PC do B) estavam em uma missão parlamentar na Rússia. Também esteve por lá Eunício Oliveira, que voltou para comandar a sessão. Aliados de Aécio, como Antônio Anastasia e Ciro Nogueira, nem foram. Questão de prioridade.
Em nome do DEM, parceiro histórico dos tucanos, o que se ouviu foi um balbuciar do senador José Agripino: “Livres”. Eunício Oliveira teve que traduzir: “O DEM liberou a bancada”.
Era um jogo de cartas marcadas. Como bem definiu aqui Helena Chagas, venceu o efeito Orloff.
Rara unidade entre políticos governistas e de oposição. Cada um no seu galho, todos pensaram no próprio pescoço.
Simples assim.