Por inexperiência ou excesso de confiança, Dias Toffoli parece ter sido imprudente ao meter a mão na cumbuca das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco. No dia 17 de outubro, ele teria sido consultado por dois procuradores do MP do Rio de Janeiro sobre como deveriam proceder diante do fato do nome do presidente Jair Bolsonaro ter aparecido em uma das apurações. Segundo o Jornal Nacional, Toffoli até hoje não respondeu.
O que contaram a Toffoli é que registros no caderno de visitas e depoimentos do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra indicam que uma suposta autorização da casa de Jair Bolsonaro foi usada como cobertura para o encontro entre os dois assassinos, horas antes do crime.
O fato de Toffoli já saber sobre a denúncia e o nome do presidente da República ter sido citado são suficientes para que as investigações migrem da Justiça do Rio para o STF. Toffoli e seu parceiro Gilmar Mendes têm se esforçado para baixar a bola nas crises com Bolsonaro. Fizeram vistas grossas, por exemplo, ao vídeo em que Bolsonaro aparece como um leão cercado de hienas representadas por entidades como o próprio Supremo, a ONU e outras entidades. Só não ficou barato pelo forte puxão de orelha do decano Celso de Mello em Jair Bolsonaro. E pela estocada do ministro Marco Aurélio relacionando o tal vídeo a volta à tona de Fabrício Queiroz, o elo dos Bolsonaros com os esquemas de rachadinhas e as milícias cariocas.
O pretexto para uma reação mais cautelosa às escancaradas agressões é que seriam mais uma “travessura” do filho Carlos Bolsonaro, o Carluxo. Até essa desculpa se esfarelou. Horas depois do presidente pedir desculpa, seu assessor internacional Filipe Martins, da ala liderada por Olavo de Carvalho, repetiu em seu Twitter o ataque às “hienas” do establishment. “Só mudará quando o Brasil se tornar nação dos leões”, escreveu. O próprio Carluxo desmentiu a versão do pai e cravou, com letras maiúsculas, que foi Jair Bolsonaro quem postou o vídeo das hienas. Ninguém o desmentiu.
Mas por que filhos e seus aliados se empenham em mostrar que o radicalismo não é exclusivo deles, tem o aval do pai presidente? No mundo político e em alas do próprio governo, a leitura é de que os olavistas, assustados com o que vem rolando na América do Sul, apostam que só terão sucesso no Brasil se partirem já para o confronto. Esperam atrair o próprio Jair Bolsonaro para essa aventura como forma de escapar do cerco das tais hienas.
As ameaças veladas de Fabrício Queiroz e a suspeita de envolvimento no caso Marielle podem ser fogo amigo da milicia. Eles estariam cobrando proteção. É o que se fala nos bastidores das investigações em Brasília. Bolsonaro escolheu outros alvos para contra-atacar. Fez um live, por volta das 4 da manhã em Riad, em que desanca a Globo, inclusive com a ameaça nada sutil de atrapalhar a renovação da concessão pública da emissora em 2022. Não poupou xingamentos. Bradou contra a “patifaria”. Acusou, também, de maneira frontal o governador Wilson Witzel, que, com o propósito de tirá-lo do caminho na sucessão presidencial, teria resolvido destruir a família Bolsonaro, orientando a polícia e o ministério público a buscar provas contra eles.
Bolsonaro viajou para a Ásia e Oriente Médio em guerra com seu próprio partido. Vai voltar a Brasília com um elenco bem maior de oponentes. Sem saber inclusive se deve se preocupar mais com os adversários de sempre ou com o fogo de novos inimigos.
A conferir.