Toda semana os líderes se reúnem na presidência do Senado para definir a pauta de votação. Aproveitam para um troca de opiniões sobre a conjuntura política. Ontem, avaliaram que a candidatura Jair Bolsonaro continua firme e forte nas mais variadas regiões. “No Ceará, é Lula no céu; Bolsonaro na terra”, disse o anfitrião Eunício Oliveira. A cada pesquisa, visita às bases eleitorais, caciques de todos os naipes veem crescer as chances de Bolsonaro chegar ao segundo turno.
Nessa eleição atípica, o que causa angústia à esquerda, à direita e ao centro é o receio de apostar em um candidato que não chegará ao turno final. O senador tucano Paulo Bauer também deu seus pitacos no bate papo na presidência do Senado. Ele representava ali os partidários de Geraldo Alckmin. Seus correligionários mal escondem a preocupação com o risco de o PSDB, pela primeira vez desde a eleição de 1989, ficar fora da reta final da corrida ao Planalto.
Na véspera, Bauer participou de um jantar de caciques tucanos com Alckmin para uma avaliação eleitoral. O pano de fundo continua sendo o mau desempenho do presidenciável nas pesquisas. Quando falta voto no ninho, os tucanos costumam se bicar. Daí as queixas e críticas ao ritmo meia boca da campanha, e à opção de Alckmin por jogar parado na expectativa de que o fracasso alheio lhe traga por gravidade os apoios necessários. O que ali causou surpresa foi uma inesperada reação de Alckmin. De acordo com o repórter Igor Gielow, ele se irritou com as cobranças a ponto de jogar um guardanapo sobre a mesa e perguntar aos presentes se eles preferiam ter outro candidato e, nesse caso, que eles escolhessem.
Depois que o desabafo de Alckmin se tornou público, alguns tucanos tentaram amenizá-lo. O deputado Sílvio Torres, um dos coordenadores da campanha de Alckmin, apesar de não ter participado do jantar, nega que ele tenha jogado o guardanapo na mesa. Outros tucanos dizem que Alckmin realmente está sentindo a pressão. Anda desconfiado das intenções do ex-pupilo João Doria, dos movimentos de Fernando Henrique Cardoso e dos dribles que vem tomando de tradicionais aliados. Nesse clima, até vento a favor pode provocar resfriado.
Ontem à tarde, foi lançado, no antigo Cafezinho da Câmara, o manifesto Por um Polo Democrático e Reformista, subscrito por Fernando Henrique, Cristovam Buarque, Aloysio Nunes Ferreira, Marcus Pestana, entre outros. Propõe uma candidatura única das forças mais progressistas do centro político.Marina Silva e Álvaro Dias, sondados para aderir ao movimento, não embarcaram. Na ótica deles, é um movimento para, enfim, decolar a candidatura Alckmin. Dias, por exemplo, corre atrás do tradicional eleitor tucano, mas dispensa o ônus de uma aliança com o PSDB.
Álvaro Dias se apresenta como um candidato progressista, mas negocia o apoio de partidos conservadores como DEM, PRB, PR, PP e Solidariedade. Diz que, diante da falência do sistema político, pode conseguir respaldo de toda essa turma para um pacto político que promova a “refundação da República”. Afirma que, em hipótese alguma, topa dar como contrapartida uma anistia aos flagrados pela Lava Jato e outras investigações sobre corrupção política. Se der certo, ele terá cerca de 40% do horário eleitoral na televisão. E se não der certo? Diz que nem assim desiste da corrida presidencial.
Marina também não quer acordo com os tucanos. Divulgou nota negando ter sido abordada para discutir uma aliança de centro. Diz que desde 2010 se mantém na luta para quebrar a polarização que levou o país a essa grave crise. Escaldada com o apoio a Aécio Neves no segundo turno em 2014, avalia que só tem a perder se entrar em um jogo que aparentemente tenta atraí-la para uma chapa como candidata a vice-presidente.
Mas pode não ser bem assim. O que explica porque a turma de Alckmin também está com um certo pé atrás em relação ao tal movimento. Desconfia que tem gente avaliando, inclusive no ninho tucano, a possibilidade de substituir Alckmin no páreo presidencial. Nem é por Doria. Mas pela própria Marina.
O que essa turma teme é ficar fora do segundo turno. O receio deles é de que as esquerdas, apesar da atual resistência de Lula, superem suas divisões e consigam emplacar Ciro Gomes – talvez com Fernando Haddad de vice – no segundo turno. “Se não criarmos uma opção, ficaremos entre a catástrofe do autoritarismo e o desastre do populismo”, diz Cristovam Buarque. “O desastre é menos ruim que a catástrofe”.
Só que as esquerdas também temem que, divididas, não cheguem ao segundo turno.
A conferir.