Com o aval de Gilmar Mendes, Dias Toffoli virou o principal protagonista na estratégia do establishment político para cortar as asas de Sérgio Moro e barrar os avanços da Lava Jato. A disposição da dupla serviu como pilha para caciques políticos, Rodrigo Maia à frente, irem à luta contra a transferência do Coaf para Ministério da Justiça e esvaziar o pacote de segurança política de Moro.
Foi sucesso até que, cobrados pelas redes sociais, parlamentares que se elegeram com a bandeira da Lava Jato reagiram e endureceram a parada no Congresso. Nem houve vácuo. A soberba era tamanha que Toffoli logo chamou o jogo para si. Mandou para as favas o equilíbrio que encarnou ao assumir a presidência do tribunal, sob desconfiança generalizada. Ali, ele costurou um nebuloso pacto entre os poderes.
A participação de Jair Bolsonaro nesse chamado acordão só ganhou algum sentido quando uma canetada de Toffoli, em pleno recesso judiciário, suspendeu as investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O problema é que paralisou junto mais de 900 investigações do Ministério Público, outras centenas da Polícia Federal e incontáveis apurações baseadas em relatórios do Coaf, da Receita Federal ou do Banco Central. Eles fazem parte, por exemplo, do dia a dia no combate ao PCC e ao Comando Vermelho.
Foi justamente aí que a casa de Toffoli e Gilmar Mendes caiu. Por causa da relatoria do controvertido inquérito a pretexto de ameaças e fake news contra o STF, Alexandre de Moraes virou parceiro de fé e irmão camarada dessa dupla. Misturaram as estações. Como procurador, chefe de polícia, Alexandre sabe do valor de órgãos de controle, como o Coaf e a Receita Federal, no dia a dia do combate a criminalidade organizada.
Depois do longo e confuso voto de Toffoli, a clara exposição de Alexandre de Moares, com argumentos e dados de quem sabe o que está falando, matou a pau. A sequência do julgamento confirma isso. Alguns aliados de Toffoli atribuem seu revés a uma suposta mudança de lado de Alexandre de Moraes. Mesmo erro dos que insistem em apostas sobre votos de Rosa Weber.
Os caciques políticos, ministros do STF e criminalistas que chegaram a comemorar a derrocada de Sérgio Moro e o fim da Lava Jato estão agora com as barbas de molho. O cachorro tido como morto está vivo. Não conseguiram enterrá-lo direito. O que mais impressiona é que o encarregado de liquidar a fatura gerou as chaves da sobrevivência.
Era voz geral que a única alternativa no julgamento no TRF 4, depois da decisão do STF de que a última palavra nas alegações deveria ser dos delatados, que voltaria à primeira instância o processo contra Lula sobre o sítio de Atibaia. Ficou até menor o fato de que essa é a investigação que mais juntou provas contra Lula. Mais uma vez, a defesa de Luva ficou a ver navios.
O TRF 4 ignorou os frágeis argumentos de sempre da defesa de Lula, que simplesmente ignora a sólida acusação de troca favores com empreiteiras, e aumentou a pena em sua condenação unânime. Nem levou em conta a decisão do STF. Afinal, em seu voto, Dias Toffoli sugeriu aos colegas que os casos deveriam ser analisados individualmente e só haveria anulação de sentença se o réu comprovasse prejuízo real ao exercício da ampla defesa. Não é o caso do Sítio de Atibaia, uma história até aqui indefensável para Lula.
Com seu voto e declarações à imprensa, Dias Toffoli enterrou e ressuscitou a possibilidade de cumprimento de pena a partir de condenação em segunda instância. Na ótica de seus aliados, cabia a ele por um ponto final na história. Ele não apenas a trouxe de volta como deu argumentos para a aposta entre seus defensores, a contragosto de seus aliados, de reversão desse jogo até o final do primeiro semestre de 2020.
Seu maior tiro no pé, porém, foram as insanas canetadas que suspenderam as investigações baseadas em apurações dos órgãos de controle, como o Coaf, a Receita Federal e o Banco Central, e investiram sobre o sigilo de 600 mil contas de pessoas e empresas. A tinta acabou no caminho.
A maior dificuldade de seus aliados é evitar que ele fique falando sozinho. O esforço é para que consiga alguma solidariedade em sua batalha perdida contra os órgãos de controle. Ele mesmo recuou na confusão que criou no caso do Coaf. Vai ser igualmente derrotado nas restrições ao fluxo de informações da Receita Federal para os órgãos de investigação.
A conferir.