Tudo que o presidente Jair Bolsonaro queria era um palanque no Dia do Exército para atiçar o fogo em sua tentativa de emparedar a democracia nas manifestações em 7 de setembro. Diferente do ano passado, quando deitou falação, ele entrou mudo e saiu calado. E ainda teve que ouvir a defesa veemente do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, do compromisso das Forças Armadas com a Constituição e a democracia. Foi mais um basta das instituições republicanas à molecagem de Bolsonaro de estimular motins de suas milícias e das polícias militares.
Covarde como sempre, dessa vez Bolsonaro evitou bater de frente com o Exército. Se tem uma coisa que preocupa os generais é a sistemática pregação do clã Bolsonaro e de seus militantes por um golpe liderado pela insubordinação das polícias militares. Isso tem sido atenuado com a desculpa de que não é a vera, mas apenas um discurso político. As Forças Armadas, em especial o Exército, não querem se meter nessa lambança. Mas não vão aceitá-la.
É um jogo tão tacanho que Bolsonaro mirou sua artilharia no vice-presidente da República, Hamilton Mourão, um general quatro estrelas por seu histórico muito mais identificado com o quartéis. Com toda a paranoia de Bolsonaro, Mourão tem sido um vice exemplar. Como ele, militares influentes dizem a lideranças civis que não há hipótese de ruptura democrática para estender a permanência de Bolsonaro no poder. A roda gira.
Por incrível que pareça, Hamilton Mourão que, no governo Dilma Rousseff, era visto como o maior golpista, hoje virou um legalista. Até as esquerdas já veem com simpatia sua ascensão ao poder. O governador do Maranhão, Flávio Dino, já disse isso com todas as letras. Só a cegueira de Bolsonaro e de seu clã, todos temerosos de irem para a cadeia, não enxergam isso. Se Bolsonaro tentar virar a mesa da democracia, talvez tenha que entregar a cadeira presidencial a Mourão.
A reação ao golpismo de Bolsonaro foi muito além do silêncio e suspiro militares. Nessa mesma quarta-feira (25), os poderes Judiciário e Legislativo também resolveram dar um basta nas bravatas de Bolsonaro. Com um sutil e explícito puxão de orelha, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, arquivou o ridículo pedido de Bolsonaro de impeachment de do ministro do STF Alexandre Moraes. Foi tão bisonho que Bolsonaro desistiu de pedir ao Senado o impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, também ministro do STF, que havia prometido a sua militância nas redes sociais. Era tudo blefe. Mas Uma tentativa de mobilizar a militância bolsonarista para o tal protesto de 7 de setembro.
Nessa mesma toada, Bolsonaro havia pedido ao STF para revogar um artigo do regimento interno do tribunal que, quando atacado, autoriza a abertura de inquéritos à revelia do ministério público, detentor legal desse procedimento. Em circunstâncias normais, não seria aceitável. A dúvida é como o STF, sob fogo cerrado dos bolsonaristas, deve se defender num quadro institucional em que o presidente abertamente tenta cooptar a Polícia Federal e o Ministério Público como trampolins para detonar as instituições republicanas e acabar com a democracia. O ministro Edson Fachin simplesmente arquivou no movimento de defesa do tribunal contra as investidas golpistas de Bolsonaro e sua tropa.
Esse é o jogo jogado.
A conferir o resultado.