Essa nova legislatura parlamentar, eleita na mesma onda que levou Bolsonaro ao Palácio do Planalto, chegou batendo cabeça, mas parece ter aprendido rápido. Por mais que governistas e oposicionistas ainda mantenham o clima de rinha, a tranquila aprovação no segundo turno da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados mostra uma significativa mudança. É mais do que o alegado consenso sobre a bem sucedida condução por Rodrigo Maia. Caiu aí mais que um tabu.
É evidente que ninguém gosta de fazer mais sacrifícios, ainda mais quando se sabe que boa parte desse custo foi repassado por privilégios alheios. Essa lógica, em vez de estimular avanços, sempre travou o debate sobre correções na Previdência. Vigorou uma espécie de maldição que inibiu apoios às mudanças na Previdência propostas por Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer, e tanto medo causaram em Bolsonaro, com seu apoio oblíquo e envergonhado.
A reforma da Previdência muda hoje de casa. Tudo indica que será bem acolhida no Senado. A Câmara agora vai cuidar do penduricalho da previdência dos militares, uma das categorias que manteve tratamento privilegiado, e olhar para o horizonte com a nova visão adquirida nesse show de bola na Previdência.
O maior desafio imediato é a reforma tributária. Já há um acerto para tentar unificar na Câmara todas as propostas nesse tema tão polêmico. Será mais um trabalho de ourives. Se tiver sucesso pode produzir um impacto na economia equivalente à reforma da previdência. Serão dois grandes nós desatados.
Com igual relevância, podem destravar a pauta no legislativo para outros voos ambiciosos. O próprio Rodrigo Maia tem dito que é preciso uma reforma administrativa, um caminho para rever privilégios, mordomias e excessos incorporados ao longo dos anos na máquina pública. Depois de tanta reação, com algum sucesso, da elite do funcionalismo público na reforma da Previdência, o Legislativo voltaria a mexer nessa caixa de marimbondos?
Parecia uma bravata de Rodrigo Maia, empolgado por seu sucesso na Previdência. Dias atrás, no almoço de aniversário do ex-deputado Heráclito Fortes — um político que agrega colegas de credos variados –, ouvi de alguns convivas avaliação de que esse novo Congresso, antenado com mudanças na opinião pública, pode encarar essa tal indigesta reforma administrativa.
E mais: pode finalmente fazer uma reforma política que acabe com a política como negócio e a indústria de partidos.
A conferir.