A Lava Jato é dura na queda

A força tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro dá um susto em Brasília ao denunciar um esquema com a participação de famosos advogados de colarinho branco na venda de influência em decisões de juízes e ministros dos tribunais superiores.

Faz tempo que a morte da Lava Jato é anunciada — e até comemorada — pelo amplo leque de interesses incomodados com a ousadia de suas investigações em esferas antes inatingíveis — o topo do establishment político e econômico do país. Caciques políticos do PT, tucanos e do Centrão, ministros do STF, o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Lula e estrelas da advocacia criminal, entre outros, são ferrenhos adversários das forças tarefas que apuram o maior escândalo de corrupção da nossa história.  Mesmo com o apoio da maioria da população, espanta a sua resiliência diante desse inédito e poderoso arco de alianças.

Orlando Diniz

Os revezes nos últimos dias, arquitetados pelo ministro Gilmar Mendes, mais uma vez foram incensados como o fim da Lava Jato. Se na última terça-feira, ela parecia sem vigor suficiente para uma reação, nessa quarta-feira mostrou um fôlego inesperado. Sua força tarefa no Rio de Janeiro, na Operação E$quema S, após uma longa e complexa investigação, denunciou o maior esquema já conhecido de compra da influência de advogados junto a tribunais superiores. Quantias parciais apuradas até agora envolvem o pagamento de cerca de R$ 151 milhões para assegurar a impunidade nos tribunais das milionárias falcatruas de Orlando Diniz — principal delator — na presidência da Fecomércio no Rio de Janeiro.

Nessa quarta-feira, a Polícia Federal realizou 50 operações de busca e apreensão em escritórios de advocacia e residências dos 26 denunciados — 23 deles advogados — que se tornaram réus após a denúncia ser recebida pelo juiz federal Marcelo Bretas. De acordo com os procuradores da Lava Jato, contratos simulados e notas fiscais falsas encobriam a verdadeira natureza dos serviços dos advogados — influenciar decisões de juízes e ministros de tribunais superiores. Não estariam atuando como advogados e, sim, como lobistas ou corretores de decisões e sentenças judiciais.

Advogado Cristiano Zanin – Foto Orlando Brito
Advogado Frederick Wassef – Foto Orlando Brito

Segundo a denúncia, teriam montado esse esquema Roberto Teixeira e Cristiano Zanim, principais advogados de Lula,  com a participação de Eduardo Martins — filho do ministro Humberto Martins, atual presidente do Superior Tribunal de Justiça — acusado de receber R$ 40 milhões para influenciar ministros no tribunal.  Diversos outros advogados também teriam recebido grana de maneira disfarçada para ajudar nessa rede de proteção a Orlando Diniz — entre eles, Adriana Anselmo, mulher e cúmplice do ex-governador Sérgio Cabral, Frederich Wassef — advogado dos Bolsonaros até a descoberta que escondia o famoso Fabrício Queiroz em sua casa em Atibaia, no interior de São Paulo — e Ana Teresa Basílio, defensora do governador afastado Wilson Wtizel. Os acusados negaram as denúncias.

Procurador Deltan Dallagnol – Foto Orlando Brito

Pelo script da turma que comanda o combate a Lava Jato, estava previsto para essa quarta-feira que a Procuradoria-Geral da República se recusaria a prorrogar os trabalhos da Força Tarefa em Curitiba, autorizada a funcionar até essa quinta-feira, ou no mínimo encolheria o grupo de procuradores com dedicação exclusiva a essa mega investigação. O pedido formulado por Deltan Dallagnol, ainda na coordenação do grupo, era por mais um ano de trabalho para concluir centenas de apurações em curso. Oito dos dez integrantes do Conselho Superior do Ministério haviam sugerido seis meses, período em que o órgão definiria um novo modelo para o combate à corrupção do colarinho branco. A PGR avaliou que isso pode ser feito em prazo menor e prorrogou os trabalhos por mais quatro meses, e não reduziu a equipe. Embora pleiteassem mais tempo, procuradores ligados às investigações avaliam que, pelas circunstâncias, ficou de bom tamanho.

Também nessa quarta-feira, o juiz Luiz Antonio Bonat, sucessor de Sérgio Moro na vara criminal responsável pela Lava Jato em Curitiba, condenou o ex-deputado Eduardo Cunha, que já foi um dos mais poderosos políticos do país, a 15 anos e 11 meses de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Essa nova condenação foi pelo recebimento de propina para emplacar a compra de dois navios-sonda de um estaleiro da Coréia do Sul. Nesse mesmo processo, o juiz Bonat confiscou quatro carros de luxo — entre eles, um Porsche Cayenne S e um Ford Edge V-6 — registrados em nome da empresa Jesus.com, de Eduardo Cunha.

Os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes – Foto Orlando Brito

A mudança mais relevante para os defensores da Lava Jato será a posse nessa quinta-feira do ministro Luiz Fux na presidência do Supremo Tribunal Federal. Menos por ele ser considerado um entusiasta das investigações do que pela saída de Dias Toffoli que, em parceria com Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, são os principais adversários da Lava Jato no tribunal. Com a sucessão no comando do Supremo, espera-se o fim das  escandalosas canetadas nas férias dos juízes que causaram enormes prejuízos a centenas e centenas de apurações criminais país afora. A partir de hoje também cabe a Fux definir a pauta do STF.

Outro fato ansiosamente aguardado pelos investigadores será o retorno previsto para essa sexta-feira do decano Celso de Mello, após licença médica, que pode pôr um fim à farra de investigados, réus e condenados na Segunda Turma com os seguidos empates em votações pautadas por Gilmar Mendes.

A conferir.

 

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