A impunidade aqui é a mãe das tragédias humanas e ecológicas

Brumadinho

O Brasil é o país das fatalidades. Tudo é atribuído ao destino. Aqui o raio sempre cai de novo nos mesmos lugares. Nem é por falta de previsão de verbas para a compra de para-raios.

Brumadinho. Foto José Cruz, Agência Brasília

O Brasil é o país das prioridades. Tudo que desanda logo vira urgente. A barragem, o viaduto, a ponte e qualquer telhado só viram relevantes depois que desabam.

O Brasil é o país da previdência. Ensinam os dicionários que previdência é o ato de prever, com o objetivo de evitar previamente determinadas situações ou transtornos, o acontecimento de alguma coisa. É o mínimo de prudência que se espera de administradores públicos e privados.

O Brasil é o país da Vale, uma das maiores empresas de mineração do mundo. Até 2007 chamava-se Vale do Rio Doce, referência a um dos mais relevantes rios do país, sufocado pelo desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem da empresa em Mariana.

A tragédia de Mariana, em 2015. Foto José Cruz, Agência Brasil

A Vale é meio símbolo de quase tudo. Exemplo de empresa estatal, de privatização bem sucedida, e de inserção do Brasil na economia mundial. Mesmo com um negócio por natureza agressivo ao meio ambiente, ela se vendeu aqui e lá fora como empresa adepta das melhores práticas de preservação.

A catástrofe de Mariana, ainda não superada, parecia ser o fundo do poço. Os desastres, ambientais ou não, nas mais variadas obras no país quase sempre entram na conta da falta de fiscalização — ausente por desleixo, propina ou falta de mão de obra. A ruptura  na barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, indica que o buraco pode ser ainda  mais embaixo.

Fabio Schvartsman, Foto Agência Brasil

E é muito mais grave. A falha em Brumadinho não foi por ausência de fiscalização. Pela concordância em todas, ali não havia perigo de desabar. A começar pela checagem da própria Vale. O presidente da empresa, Fábio Schvartsman, disse que, após o desastre de Mariana, a empresa convocou os melhores especialistas do mundo para avaliar a segurança de todas suas barragens, entre elas a do Córrego do Feijão. Ela foi aprovada, sem restrições.

Há pouco mais de um mês, em reunião no dia 11 de dezembro, a Câmara de Atividades Minerárias, órgão da Secretaria do Meio Ambiente de Minas Gerais, aprovou por 8 votos a favor 1 contra e 1 abstenção ( do Ibama) a continuidade das minas da Jangada e do Córrego do Feijão. Consideraram improcedentes as reclamações dos moradores da região.

O Brasil é o país da impunidade. A tragédia humana e ecológica em Brumadinho, a exemplo da tragédia ecológica e humana em Mariana, por mais que choquem, acabam na pasta das fatalidades. Essa é a lógica até aqui. Vai mudar?

A conferir.

Deixe seu comentário